“Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração; então, se arrependeu o Senhor de ter feito o homem na terra, e isso lhe pesou no coração. Disse o Senhor: Farei desaparecer da face da terra o homem que ciei, o homem e o animal, os répteis e as aves dos céus; porque me arrependo de os haver feito” (Gn 6.5-7).
Em Malaquias 3.6 lemos: “Porque eu, o Senhor, não mudo...” (cf. Tg 1.17), afirmando o que a Igreja tem crido desde o princípio que é a doutrina da imutabilidade de Deus. Entretanto, sempre nos vemos envolvidos em discussões a respeito do texto de Gênesis em que Deus diz-se arrependido de ter criado o homem, numa declaração velada e sem rodeios. Mas, será que podemos interpretar um texto bíblico tão literalmente se levarmos em consideração sua origem tão primitiva? Apesar da escolha pelo óbvio ser, em princípio, a recomendada pela hermenêutica moderna, em alguns casos isso não é possível e esse é um dos casos onde tal interpretação não pode ser aceita. Neste texto principalmente, porque entra em choque direto com outros escritos bíblicos.
Outra coisa importante a ser observada é que “DEUS É ESPÍRITO, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4.24). Ou seja, algumas situações são descritas na Bíblia em consonância com a capacidade limitada da compreensão humana, atribuindo a Deus características físicas e morais que o homem conhece. Um exemplo disso está no próprio texto de Gênesis 6, no verso 6: “e afligiu-se o coração”; mas, que coração? Sendo essencialmente um ente espiritual, Deus não possui um coração como o nosso. Tal situação é denominada antropomorfismo (anthropos – homem; morphe – forma; latim), que é é a forma de pensamento que atribui características e/ou aspectos humanos a Deus, deuses, elementos da natureza e constituintes da realidade em geral. Nesse sentido, toda a mitologia grega, por exemplo, é antropomórfica. Com relação aos sentimentos e atributos morais, como o arrependimento, p. ex., denomina-se antropopatia (anthropos – homem; patia – sentimento; latim) a atribução de sentimentos humanos a Deus. Observe que Deus é Espírito e não possui sentimentos iguais aos humanos, assim como não se pode definí-lo por sua grandeza e majestade divinas, não há como compreendê-lo plenamente pois é um ser eterno e inatingível.
Analisando a palavra arrependimento na língua original, como consta nas Escrituras, temos:
O entendimento do texto de Gn 6.5-7, relativa ao arrependimento de Deus, portanto, já se afasta de uma interpretação literal. Neste caso, sob o conceito da antropopatia e e da análise da palavra nāham, o texto exprime, à maneira humana, a exigência da santidade do Senhor, que não pode suportar o pecado. Lendo I Samuel 15.29, continuamos a afastar a interpretação literal do referido texto e, juntamente com outros textos, começamos a ter uma compreensão diferenciada do significado da palavra “arrependimento” na Bíblia, quando este se referir a Deus.
“Arrependimento” de Deus, enfim, parece mais uma mudança de atitude para com as ações humanas que a expressão de um sentimento do Senhor. Veja nos textos: Êx 32.12,14; I Sm 15.11; II Sm 24.16; Jr 18.11; Am 7.3,6, todos demonstram que Deus “muda de pensamento” com relação à punição ou não dos homens, conforme sua reação de continuídade no pecado ou de arrependimento. Vale ressaltar que o “arrependimento” de Deus, com bem maior freqüência, significa o aplacamento de sua ira e retirada de sua ameaça (cf. Êx 32.11-14 e r 26.3ss).
Com base nisso, crê-se que não há contradição na doutrina cristã em afirmar a imutabilidade de Deus, pois o mesmo tem confirmado seus eternos propósitos descritos nas Escrituras e comprovando que foi, que é e que sempre será Deus (Êx 3.14; Hb 13.8).
1. R. Laird Harris, Gleasson L. Archer & Bruce K. Waltke - Dicionario Internacional de Teologia do Antigo Testamento – Ediçoes Vida Nova
Em Malaquias 3.6 lemos: “Porque eu, o Senhor, não mudo...” (cf. Tg 1.17), afirmando o que a Igreja tem crido desde o princípio que é a doutrina da imutabilidade de Deus. Entretanto, sempre nos vemos envolvidos em discussões a respeito do texto de Gênesis em que Deus diz-se arrependido de ter criado o homem, numa declaração velada e sem rodeios. Mas, será que podemos interpretar um texto bíblico tão literalmente se levarmos em consideração sua origem tão primitiva? Apesar da escolha pelo óbvio ser, em princípio, a recomendada pela hermenêutica moderna, em alguns casos isso não é possível e esse é um dos casos onde tal interpretação não pode ser aceita. Neste texto principalmente, porque entra em choque direto com outros escritos bíblicos.
Outra coisa importante a ser observada é que “DEUS É ESPÍRITO, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4.24). Ou seja, algumas situações são descritas na Bíblia em consonância com a capacidade limitada da compreensão humana, atribuindo a Deus características físicas e morais que o homem conhece. Um exemplo disso está no próprio texto de Gênesis 6, no verso 6: “e afligiu-se o coração”; mas, que coração? Sendo essencialmente um ente espiritual, Deus não possui um coração como o nosso. Tal situação é denominada antropomorfismo (anthropos – homem; morphe – forma; latim), que é é a forma de pensamento que atribui características e/ou aspectos humanos a Deus, deuses, elementos da natureza e constituintes da realidade em geral. Nesse sentido, toda a mitologia grega, por exemplo, é antropomórfica. Com relação aos sentimentos e atributos morais, como o arrependimento, p. ex., denomina-se antropopatia (anthropos – homem; patia – sentimento; latim) a atribução de sentimentos humanos a Deus. Observe que Deus é Espírito e não possui sentimentos iguais aos humanos, assim como não se pode definí-lo por sua grandeza e majestade divinas, não há como compreendê-lo plenamente pois é um ser eterno e inatingível.
Analisando a palavra arrependimento na língua original, como consta nas Escrituras, temos:
nāham – ter pena, arrepender-se, lamentar, ser consolado, consolar.
Em sua origem, que é ugarítica, a palavra reflete a idéia de “respirar fundo”1 e, por conseguinte, transparece a manifestação física dos sentimentos de um indivíduo, geralmente tristeza, compaixão ou pena.O entendimento do texto de Gn 6.5-7, relativa ao arrependimento de Deus, portanto, já se afasta de uma interpretação literal. Neste caso, sob o conceito da antropopatia e e da análise da palavra nāham, o texto exprime, à maneira humana, a exigência da santidade do Senhor, que não pode suportar o pecado. Lendo I Samuel 15.29, continuamos a afastar a interpretação literal do referido texto e, juntamente com outros textos, começamos a ter uma compreensão diferenciada do significado da palavra “arrependimento” na Bíblia, quando este se referir a Deus.
“Arrependimento” de Deus, enfim, parece mais uma mudança de atitude para com as ações humanas que a expressão de um sentimento do Senhor. Veja nos textos: Êx 32.12,14; I Sm 15.11; II Sm 24.16; Jr 18.11; Am 7.3,6, todos demonstram que Deus “muda de pensamento” com relação à punição ou não dos homens, conforme sua reação de continuídade no pecado ou de arrependimento. Vale ressaltar que o “arrependimento” de Deus, com bem maior freqüência, significa o aplacamento de sua ira e retirada de sua ameaça (cf. Êx 32.11-14 e r 26.3ss).
Com base nisso, crê-se que não há contradição na doutrina cristã em afirmar a imutabilidade de Deus, pois o mesmo tem confirmado seus eternos propósitos descritos nas Escrituras e comprovando que foi, que é e que sempre será Deus (Êx 3.14; Hb 13.8).
1. R. Laird Harris, Gleasson L. Archer & Bruce K. Waltke - Dicionario Internacional de Teologia do Antigo Testamento – Ediçoes Vida Nova