segunda-feira, junho 11, 2018

Pastoral - Evangélicos e Ética no Brasil


       O ethos evangélico é muito pouco diferente do ethos nacional, sendo predominantemente uma moralidade ou um testemunho pessoal. Mesmo sob a orientação divina de ser “diferente” o evangélico pouco se destaca do modo de ser de outras pessoas. Uma ética evangélica relevante para nossos tempos não pode ser desvinculada da teologia, sem ela a ética se dilui em busca de códigos de conduta cujo objetivo é só diferenciar evangélicos de não evangélicos.
            A ética dos brasileiros era uma ética patriarcalista, uma ética individual e de cumprimento de deveres, baseadas numa série de negações a prazeres sociais, tais como não fumar, não beber, etc. Nos dias de hoje a ética evangélica continua sendo uma questão de regras de conduta e de restrição de comportamento, havendo apenas certo relaxamento de costumes em relação ao período anterior, tendo o hedonismo e o consumismo como destaque. Escândalos sexuais e corrupção têm colocado a identidade evangélica em xeque.
            Ações sociais tomam o lugar de evangelismo e missões, a Igreja envolve-se mais em assuntos políticos falando-se em termos de cristandade, subordinando a teologia à ideologia, também buscando alcançar o poder para se beneficiar e para fazer do Brasil um país evangélico. Isso se dá pela pouca influência que a teologia tem dentro das comunidades cristãs, pois essa é de responsabilidade somente do clero e das suas instituições teológicas. Pensamento ético sem teologia se reduz a construção de códigos de conduta.
            Uma ética evangélica interessante baseia-se na liberdade alcançada em Cristo, que é exemplo de uma total entrega de vida ao Pai e uma vida plena de humanidade desejada pelo Criador. A liberdade é, portanto, conferida à humanidade mediante a integralidade da vida, morte e ressurreição de Cristo. Jesus é libertador mediante a sua solidariedade com a humanidade na escravidão que caracteriza a nossa condição, por herança. Em Cristo conquistamos a liberdade dessa escravidão mediante o Espírito de filiação enviado pelo Pai. O fundamento de nossa liberdade é a fidelidade de Cristo, que torna a graça libertadora de Deus presente na história. Jesus assume a maldição que recaía sobre a humanidade, libertando-a da maldição da Lei que não pode mais impedir o homem de alcançar a salvação, agora pela fé. Enfim, abre-se a possibilidade de uma vida plena de liberdade em Cristo.
            Conceber a ética cristã como ética de liberdade nos ajuda a reconfigurar unidade entre teologia, espiritualidade e ética. Como ética da liberdade cristã é uma ética da liberdade em amor, a prática cristã da liberdade equivale à prática do amor como o eixo da ética e espiritualidade cristãs.
A fé cristã se renova diariamente na vida de todos que por ela são livres, e, independentemente das falhas que seus seguidores cometem, ainda é uma instrução divina para o benefício da coletividade dos que crêem, servindo a humanidade de forma igualitária, justa, solidária e fraternal. A ética evangélica então deixa de ser somente baseada em códigos de conduta ou normas de comportamento, mas, na liberdade que foi alcançada em Cristo, pela fé, que pelo amor decorrente desta mesma fé se materializa em cidadãos do Reino de Deus que lutam permanentemente por sua manutenção.

terça-feira, novembro 08, 2016

First Person: Por que Consultar Acadêmicos para Julgar a Autenticidade do "Fragmento do Evangelho da Esposa de Jesus"?

Hershel Shanks   •  11/04/2016
Texto original - Biblical Archaeology Society

O bom jornalismo superou o bom artigo acadêmico. Essa é a aparente lição de um longo artigo na edição de julho/agosto de 2016 do The Atlantic, que está ganhando elogios por toda parte por desmascarar uma falsa inscrição antiga em que Jesus se refere a "minha esposa", ostensivamente indicando que ele é casado.

A inscrição está em cóptico e inscrito em um pedaço de papiro antigo do tamanho de um cartão de visita. Chegou até a professora Karen King, da Harvard Divinity School, que detém a cadeira mais antiga nos Estados Unidos, através de um Walter Fritz, que pediu anonimato.

O artigo do The Atlantic foi escrito pelo jornalista investigativo e autor Ariel Sabar. No momento em que Sabar entrou em cena, o texto copta tinha sido amplamente conhecido há anos e até mesmo publicado. Foi debatido extensamente se era uma falsificação.

A resposta correta sobre o assunto viria de Leo Depuydt, um especialista em copta da Brown University. Depuydt foi capaz de chegar a um juízo firme, mesmo depois de ver apenas uma foto do texto no jornal; A gramática copta era terrível. “Não tenho a menor dúvida de que o documento é uma falsificação e não muito boa por sinal”, declarou Depuydt. O estudioso britânico Francis Watson da Universidade de Durham chegou à mesma conclusão.

Para Karen King em Harvard, no entanto, o texto parecia bom. Ela fez o que os estudiosos cuidadosos costumam fazer: ela consultou colegas – a papirologista AnneMarie Luijendijk da Universidade de Princeton e Roger Bagnall, chefe do Instituto para o Estudo do Mundo Antigo da Universidade de Nova York. Ambos estavam inclinados a concordar com Karen King que o texto copta era bom. Na verdade, com base na tinta, o professor Luijendijk foi mais longe: “Seria impossível falsificar”. Então, o especialista da Universidade Hebraica Ariel Shisha-Halevy concordou: “O texto é autêntico”.

O Evangelho da Esposa de Jesus. Foto: Karen King.

Em seguida, uma bomba atingiu o mundo acadêmico. Infelizmente, a história é um pouco complicada. Christian Askeland ganhou recentemente seu Ph.D. Na Universidade de Cambridge, escrevendo sua dissertação sobre o Evangelho Gnóstico de João. Um fragmento do Evangelho Gnóstico de João também estava entre os documentos que tinham sido dados a Karen King juntamente com o Evangelho da Esposa de Jesus. Os dois documentos foram escritos pela mesma mão. Baseado no texto do Evangelho Gnóstico de João que Askeland havia analisado para sua dissertação, ele foi capaz de mostrar que o fragmento do Evangelho Gnóstico de João encontrado entre os fragmentos que Karen King possuía era claramente uma falsificação. O falsificador do pequeno fragmento do Evangelho Gnóstico de João, na posse de Karen King, reproduziu todas as outras linhas do Evangelho Gnóstico de João que Askeland tinha estudado para sua dissertação (e era conhecido desde 1923, portanto, claramente não era uma falsificação recente). Isto indicava bastante claramente que a cópia do Evangelho Gnóstico de João que Karen King possuía era uma falsificação. A cópia citada por Askeland possuía as mesmas 17 linhas do fragmento do Evangelho Gnóstico de João, de Karen King. E se a cópia do Evangelho Gnóstico de João que Karen King tinha era uma falsificação, assim era o fragmento do Evangelho da Esposa de Jesus. Se um é uma falsificação, assim é o outro.

Karen King agora concorda amplamente.

Em seguida, a análise passou do mundo acadêmico para o mundo jornalístico.

A edição julho/agosto de 2016 do The Atlantic publicou uma longa peça de investigação de Ariel Sabar. Sabar analisou a vida de Walter Fritz, o homem que trouxe o Evangelho da Esposa de Jesus e os outros supostos documentos antigos a Karen King, concluindo, com base no caráter e atividades de Fritz, que os documentos eram falsificações.

O relato investigativo de Fritz sobre Sabar, suas atividades e suas mentiras foi intenso e tem sido quase universalmente visto como um jornalismo brilhante. Sem dúvida, Walter Fritz era um cara atrevido. Evidentemente, nos anos 80 e 90, ele foi matriculado em um programa de mestrado em egiptologia na Universidade Livre de Berlim. Ele também foi um guia turístico no Museu Egípcio de Berlim e até se tornou o diretor de um museu recém-inaugurado instalado na antiga sede da Stasi em Berlim.

Depois de ler o artigo de Sabar no The Atlantic, Karen King percebeu que ela não sabia quase nada sobre Walter Fritz. O artigo de Sabar, declarou, “possui inclinação para a falsificação”.

O que me perturba sobre a peça de Sabar não é sua conclusão - acredito que o Evangelho da Esposa de Jesus é uma falsificação, – mas que ele chegou a sua conclusão “provável” sem sequer considerar a discussão aca dêmica sobre o assunto. Para ele, aparentemente, é irrelevante; A única questão relevante é o caráter de Walter Fritz. O fato dos acadêmicos já terem declarado que o texto é uma falsificação em termos substantivos parece irrelevante.

Este não é um desacordo sobre se o Evangelho da Esposa de Jesus é uma falsificação. Quase todos concordam agora que é. Minha crítica é que a nova análise chega à mesma conclusão que os estudiosos já haviam chegado - ainda que não seja mencionada na longa análise de Sabar.

Além disso, a análise de Sabar sobre o caráter de Walter Fritz é, estritamente falando, não relacionada à questão da falsificação. Segundo o artigo de Sabar nada que Walter Fritz fizesse ou dissesse indicava que alguma vez havia forjado alguma coisa ou tinha a capacidade de fazê-lo. Havia muita suspeita sobre Walter Fritz, apesar disso não há nenhuma evidência de como ele os forjou.

No final, é difícil não ter a sensação de que o que convenceu Sabar de que Fritz foi o falsificador foram alguns fatos estranhos: A partir de 2003, Fritz lançou uma série de sites pornográficos. Para piorar as coisas, eles mostraram a esposa de Fritz. E muitas vezes, dizem-nos, com mais de um homem de cada vez. Uma página da Web classificou a Sra. Fritz como “a Esposa Prostituta Americana # 1”.

Fritz pode ter adquirido inscrições forjadas ou, pelo menos teoricamente, ter adquirido autênticas inscrições antigas. Mas nada do que Fritz mostrou ou disse indicaria a Sabar uma coisa ou outra.

A obra de Sabar trata do caráter de Fritz, em vez da autenticidade do Evangelho da Esposa de Jesus. Se eu compraria uma inscrição antiga dele? Certamente não. Mas tampouco posso dizer que tudo o que ele tem para venda é uma falsificação. Para isso, eu precisaria de análises acadêmicas, científicas e linguísticas da mais alta ordem. Mas, como ressalta Karen King, mesmo que esse material se torne autêntico, não é indício de que Jesus era casado, apenas centenas de anos depois de sua crucificação, algumas pessoas achavam que ele foi casado.

quinta-feira, maio 19, 2016

Como a serpente se tornou Satanás

Adão, Eva e a serpente no Jardim do Éden

Shawna Dolansky   •  04/08/2016
Texto original - Biblical Archaeology Society

Apresentada como "o mais inteligente de todos os animais do campo, que Deus havia criado," a serpente no Jardim do Éden é retratada apenas assim: “a serpente”. Não houve uma aparição de Satanás em Gênesis 2-3 pela simples razão de que, quando esta história foi escrita, o conceito do diabo ainda não havia sido inventado. Tentar explicar a serpente no Jardim do Éden como sendo Satanás para os antigos autores do texto, soaria como algo muito estranho. Seria semelhante dizer que a visão de Ezequiel se referia a um OVNI (pesquise agora no Google "visão de Ezequiel" e veja que muitas pessoas fazem essa conexão!). De fato, a palavra satan aparece em outras partes da Bíblia Hebraica/Antigo Testamento, mas nunca como um nome próprio; uma vez que não há um diabo na visão de mundo do antigo Israel, não se pode afirmar que havia um nome próprio para tal criatura.

No quadro estão Deus, querubins, anjos, Adão, Eva e a serpente no Jardim do Éden. Pintura de Domenichino: A repreensão de Adão e Eva (1626). Foto: Patron’s Permanent Fund, National Gallery of Art.

O substantivo satan, no hebraico, significa "adversário" ou "acusador", ocorre nove vezes na Bíblia Hebraica: cinco vezes para descrever um militar humano, adversário político ou legal, e quatro vezes com referência a um ser divino. Em Números 221, o profeta Balaão, contratado para amaldiçoar os israelitas, é parado por um mensageiro do Senhor, descrito como "o satan" agindo em nome de Deus. Em Jó, "o satan" é um membro do conselho celestial de Deus – um dos seres divinos, cujo papel na história de Jó é ser um "acusador", um status adquirido também por pessoas no Israel antigo e na Mesopotâmia, para lidar com processos de efeitos judiciais. No caso de Jó, o que está em julgamento é a afirmação de Deus de que Jó é completamente "íntegro e reto" contra a repreensão de “o satan” de que Jó somente se comporta assim porque Deus sempre o recompensou. Deus argumenta que Jó é recompensado porque ele é bom, e não é bom porque ele é recompensado. Então “o satan” desafia Deus a uma aposta em que tudo deve ser tirado do pobre Jó, que vai, a partir daí, deixar de ser íntegro e reto, e Deus aceita. Uma percepção de “o satan” como sendo Satanás tornaria mais fácil compreender essa face de Deus, mas, a história demonstra o contrário; sendo “o satan” um mensageiro do Senhor em Números 22, este satan atua sobre instruções do próprio Deus, não sendo, portanto, uma força (um agente) independente do mal.

Em Zacarias 32, o profeta descreve uma visão do sumo sacerdote Josué, de pé diante de um conselho divino semelhante, também funcionando como um tribunal. Adiante dele estão o mensageiro de Deus e “o satan”, que está ali para acusá-lo. Esta visão é forma que Zacarias utiliza para pronunciar a aprovação da nomeação de Josué para o sumo sacerdócio, em face de membros da comunidade que lhe fazem oposição. O mensageiro repreende “os satan” (adversários, opositores) e ordena que a roupa suja de Josué seja substituída, como ele promete, Josué tem acesso contínuo ao conselho divino. Mais uma vez, “o satan” não é Satanás, que lemos a respeito no Novo Testamento.

A palavra satan aparece apenas uma vez sem o artigo "o" em toda a Bíblia hebraica: em 1 Crônicas 21:1. Será que finalmente teremos Satanás retratado aqui? 1 Crônicas 21 é a história paralela do censo de David que está em 2 Samuel 24 (v.1 – “A ira de Iahweh se acendeu contra Israel e incitou Davi contra eles: ‘Vai”, disse ele, ‘e faze o recenseamento de Israel e de Judá’”.), em que Deus ordena David "Vai, ... e faze o recenseamento de Israel e Judá" e, em seguida, pune rei e o reino por fazê-lo. O cronista muda essa história, como ele faz com outras, para não comprometer o relacionamento entre Deus e Davi; ele escreve que "Satan levantou-se contra Israel e induziu Davi a fazer o recenseamento de Israel" (1 Crônicas 21: 1,6-7; 27:24). Embora seja possível ler "satan" aqui em vez de "o satan" (em hebraico não se usam nem letras maiúsculas, nem artigos indefinidos, por exemplo, "um satan"), nada mais nesta história ou em quaisquer textos há indicação que a idéia de um príncipe mal da escuridão existe na consciência dos israelitas.

Então, se não há nenhum Satanás na Bíblia hebraica, como foi que o diabo entrou no Éden?

A visão de mundo de leitores judeus de Gênesis 2-3 mudou profundamente nos séculos desde que a história foi escrita pela primeira vez. Após o cânon da Bíblia hebraica ter sido fechado3, crenças em anjos, demônios e uma batalha apocalíptica final, surgiu em uma comunidade judaica dividida e turbulenta. À luz deste fim iminente, muitos se voltaram para uma compreensão renovada do início e do Jardim do Éden, que foi re-lido – e re-escrito – para refletir idéias de mudança para um mundo transformado. Duas coisas separadas aconteceram e depois fundiram-se: Satanás tornou-se o nome próprio do diabo, um poder sobrenatural agora visto como opositor de Deus, como o líder dos demônios e as forças do mal; e a serpente no Jardim do Éden veio a ser identificada como sendo ele, Satanás. Enquanto nós começamos a ver a primeira idéia que ocorre em textos de dois séculos antes do Novo Testamento, a segunda não vai acontecer nem tão cedo; a serpente do Éden não é identificada com Satanás na Bíblia hebraica ou do Novo Testamento.

O conceito do diabo começa a aparecer em textos judaicos do segundo e primeiro séculos BCE (Before de Commom Era4). Em 1 Enoque, o "anjo", que "seduziu Eva" e "mostrou as armas de morte aos filhos dos homens" foi chamado Gadreel (não Satanás). Na mesma época, a Sabedoria de Salomão ensinou que "pela inveja do diabo entrou a morte no mundo, e aqueles que estão de seu lado a sofrerão." Embora isso possa muito bem ser a primeira referência a serpente do Éden como o diabo, em nenhum texto, nem em qualquer documento que temos até depois do Novo Testamento, satan pode ser claramente entendido sendo como a serpente no Éden. No Qumran, no entanto, Satanás é o líder das forças das trevas; seu poder é dito para ameaçar a humanidade, e acreditava-se que a salvação traria a ausência de Satanás e do mal. 

No primeiro século da EC (Era Cristã – um ano após o nascimento de Jesus), Satanás é adotado por um movimento cristão nascente, sendo ele governante de um reino de escuridão, um oponente e enganador de Jesus (Marcos 1:13), príncipe dos demônios e força de oposição a Deus (Lucas 11:15 -19; Mateus 12: 24-27; Marcos 3: 22-23: 26); o ministério de Jesus coloca um fim temporário para o reino de Satanás (Lucas 10:18) e a conversão dos gentios leva-os de Satanás para Deus (Atos 26:18). Na mais famosa declaração, Satanás põe em perigo as comunidades cristãs, mas vai cair no ato final de salvação de Cristo, descrito em detalhes no livro do Apocalipse.

Mas, curiosamente, embora o autor do Apocalipse descreva Satanás como "a antiga serpente" (Apocalipse 12:9; 20:2), não existe uma ligação clara na Bíblia entre Satanás e a cobra falante do Éden. O antigo mito da batalha, no Oriente Próximo, que envolveu Marduk e Tiamat no texto de Enuma Elish e Baal e Yam/Mot nos textos da antiga Canaã, normalmente representam o mal como uma serpente. A caracterização do Leviatã em Isaías 27 reflete tais mitos muito bem:

“Naquele dia, punirá Iahweh,
Com a sua espada dura, a grande e forte,
Leviatã, serpente escorregadia,
Leviatã, serpente tortuosa,
Matará o monstro que habita o mar”.

Assim, a referência de Apocalipse 12:9 a Satanás como "a antiga serpente" provavelmente reflete monstros míticos como Leviatã, em vez da inteligente, equipada com pernas, e falante criatura no Éden.

No Novo Testamento, Satanás e seus demônios têm o poder de entrar nas pessoas e  possuí-las; isto é o que se diz ter acontecido a Judas (Lucas 22: 3; João 13:27; cf. Marcos 5: 12-13; Lucas 8: 30-32). Mas quando Paulo reconta a história de Adão e Eva, ele coloca a culpa nos seres humanos (Romanos 5:18; cf. 1 Coríntios 15: 21-22), e não em anjos caídos, ou na serpente como Satã. Ainda assim, tal fusão implorou para ser feita, e ela vai parecer natural para os autores cristãos posteriores Justino Mártir, Tertuliano, Cipriano, Irineu e Agostinho, por exemplo, que assumiriam a associação de Satanás com a serpente falante do Éden. O mais famoso relato, no século 17, elaborado por John Milton, apresenta o papel de Satanás no Jardim de forma poética, com grandes detalhes no Paradise Lost. Mas esta ligação não é observada em qualquer lugar na Bíblia.

Notas
  1. Números 22.22 - “A sua partida excitou a ira de Iahweh e o anjo (lë satan) de Iahweh se colocou na estrada, para barrar-lhe a passagem”.
  2. Zacarias 3.1 – “Ele me fez ver Josué, sumo sacerdote, que estava de pé diante do Anjo de Iahweh, e Satã (vë ha satan), que estava de pé à sua direita para acusá-lo”.
  3. O livro de Daniel foi o último livro a ser incluído na Bíblia Hebraica/Antigo Testamento em cerca de 162 aC.
  4. BCD - utilizado para mostrar que um ano ou século vem antes do ano 1 do calendário utilizado em grande parte do mundo, p. ex.na Europa, nas américas do norte do sul.


quinta-feira, março 31, 2016

Repostagem - APÓSTOLOS OU APÓSTATAS?

“Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência; proibindo o casamento, e ordenando a abstinência dos alimentos que Deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças; Porque toda a criatura de Deus é boa, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças” (I Timóteo 4.1-4).

Em seu ministério Paulo lutava incansavelmente contra os hereges de sua época, pessoas que pregavam mentiras e coagiam seus seguidores a se abster de alimentos, a utilizar certos tipos de roupas, de rejeitarem a comunhão com pessoas estranhas a sua crença, entre tantas outras coisas que a criatividade humana era capaz de inventar. Desde sempre há pessoas que, dizendo-se portadores de “revelações especiais” – muitas vezes exclusivas – estão direcionando seus rebanhos a caminhos de engano e de morte, arvorando-se como profetas de uma nova era cristã e prometendo milagres e grandes prodígios, além de prosperidade, poder e prestígio para seus discípulos, esquecendo-se e desviando-se totalmente dos ensinamentos de Cristo, legislando em benefício próprio.

A televisão tornou-se pior para o Evangelho do que já foi antes. Todo cristão, com pouco mais de dez anos de fé, deve ser capaz de se lembrar de discussões a respeito da necessidade de se ocupar este espaço de influência massiva, de se criar programas evangélicos onde seria divulgada a boa nova de salvação ao mundo. Hoje, pessoas que tiveram um encontro verdadeiro com Cristo, lamentam-se em suas casas ao verem a preciosa mensagem da graça de Deus ser descaradamente transformada em produto da economia capitalista. Tudo não passa da descoberta de um excelente nicho de mercado, onde com grandes porções de sentimentalismo e uma boa dose de curandeirismo vendem-se lencinhos sagrados, águas bentas, óleos santos e todo tipo de “bugiganga gospel”.

Da televisão para os templos suntuosos, observa-se nesses cultos uma autoridade auto-imposta onde o líder “determina” bênçãos de prosperidade e cura, tornando Deus em mero amuleto de poder donde fluem as forças necessárias para os “profetas” realizarem seus grandes feitos. Nesse caso a soberania de Deus deixa de existir e é Ele quem passa a obedecer ao superpregador infalível, imbatível e determinador do destino dos seus fiéis. São homens e mulheres que recebem cada vez mais adoração e louvor que o próprio Senhor Jesus Cristo. São novas versões do bezerro de ouro, só que ainda não experimentaram a ira de Deus.

Dentre tantas coisas observáveis na Bíblia, referentes à volta de Jesus, a apostasia declarada no texto que introduz este artigo é aí observada muito claramente. Pois, quem deseja viver uma fé de deleites, de acúmulo de bens materiais, de poder e futilidades, está vivendo um evangelho diferente e estranho ao texto das Sagradas Escrituras. Quem vive esse falso evangelho onde as pessoas são mais importantes pelo que tem e não pelo que são, que ignoram seus semelhantes por excessivo amor a si mesmos, já abandonaram a mensagem cristã verdadeira e apostataram da fé. Tais pessoas nunca foram realmente alcançadas e transformadas pela ação graciosa do Espírito Santo. Paulo fez duras afirmações contra essas pessoas que manipulam e modificam o Evangelho em benefício próprio: “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema” (Gl 1.8,9). 

Muitos pensam estar na Igreja, mas, estão em instituições apóstatas e anátemas, que pregam um evangelho de licenciosidade e de abandono aos ensinamentos de Cristo e de seus verdadeiros apóstolos, tais como:

Mat 6:25 – “Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?”
Mat 6:33 – “Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.”
O exemplo de Zaqueu – Luc 19.8 -  “E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado”. Abriu mão da riqueza para seguir a Jesus.
O péssimo exemplo do jovem mancebo – Mat 19.21 – Jesus tratando com o Mancebo de Qualidade quando diz: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo que tens, e dá aos pobres; E terás um tesouro nos Céus; e vem, e segue-me”.
Jo 13.34,35 – “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”.
1Tim 6:10, 17-19 - Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos; Que façam bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente, e sejam comunicáveis; Que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna.
1Tim 2.5 – “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem”.  Esses falsos profetas não podem assumir uma postura de mediadores, pois, só há um Mediador e este é o Cristo.
Há muitos outros textos que podem corroborar com a denúncia contra o falso (e maldito) evangelho que tem sido propagado no Brasil e no mundo, seja pela televisão, rádio ou instituições locais. Mas, para quem apostatou da fé, para quem nunca se tornou uma nova criatura e tem sua atenção voltada unicamente para a materialidade terrena, é inútil citar textos porque é como lançar pérolas a porcos (Mt 7.6). Mas, não se pode ficar calado diante de tal apostasia, heresia e blasfêmia, vale a denúncia contra os falsos profetas e a exortação que fica para os santos: 

“Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas e farão tão grandes sinais e prodígios, que, se possível fora, enganariam até os escolhidos” (Mt 24.24).

terça-feira, março 22, 2016

Pastoral - SOBRE O AMOR - Parte IV

O Dom Supremo de Deus

Enfim, não há nada mais magnífico na expressão poética da inspiração divina, do que o magistral relato do apóstolo Paulo sobre o amor, no capítulo 13 de I Coríntios. Tal discurso não poderia ter outra fonte senão o Pai das Luzes, que é a expressão própria e única fonte do verdadeiro amor.
“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine.
Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará.
O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará” (I Co 13.1-8).
Nenhum talento, ou dom espiritual; nem todo o conhecimento, ou a fé; nem as boas obras, ou o martírio em prol de uma nobre causa, têm algum valor sem o amor. No amor se encontra a paciência e a benignidade, no amor o ciúme e a soberba se apagam; no amor há doação, mansidão e perdão; o amor anda junto da verdade. “Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (v. 7). Como Deus, o amor é eterno, sempre existiu e dura para sempre!

O amor é o dom supremo de Deus, que “amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). O amor é o mandamento maior de Deus, expresso em Cristo: “O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este: de dar a própria vida em favor dos seus amigos” (Jo 15.12,13).

“E nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem por nós. Deus é amor, e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele” (I Jo 4.16). Portanto, irmãos, “guardai-vos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, para a vida eterna” (Jd 1.21), não fazendo acepção de pessoas e perseverando em praticar o que nos foi ensinado.

domingo, março 20, 2016

Pastoral - SOBRE O AMOR - Parte III

Em Busca da Perfeição

Na Bíblia o diferencial mais evidente no cristão autêntico é o seu amor pelos que lhe causam contrariedades, o amor que ele é capaz de demonstrar por aqueles que se declaram seus inimigos, segundo o exemplo do próprio Cristo.

“Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos” Mt 5.43-45.

Diferentemente de somente não desejar o mal a seus inimigos, o amor é, como vimos no texto acima, uma questão de atitude que traga benefícios às pessoas. Jesus não aceita que sejamos bons e amáveis somente com os que retribuem nossa amizade e amor, mas também, e principalmente, com os que nos odeiam. Pois, se assim agíssemos, não seríamos iguais aos ímpios? “E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios também o mesmo?” (Mt 5.47).

Como filhos de Deus, como pessoas que possuem frutos do Espírito Santo, como indivíduos que têm uma natureza espiritual, o Senhor não exige de nós nada menos que a perfeição: “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste” (Mt 5.48). Tal perfeição é a capacidade que temos, pelo Espírito de Deus, de superar o ódio, o rancor e a indiferença, orando em favor dos que se declaram nossos inimigos e, na medida do possível, restabelecendo com eles novos laços de paz e de amor.

Todos sabemos o quanto isso é difícil, mas, ao pronunciarmos publicamente nossa fé isso nos traz uma responsabilidade, no mínimo, de tentar realizar o que nos é ensinado. Abaixo um grande e precioso exemplo disso.






sexta-feira, março 18, 2016

Pastoral - SOBRE O AMOR Parte II

As Quatro Sementes

A Bíblia instrui que no dia em que fomos alcançados pela graça do Senhor, fomos transformados em novas criaturas. Recebemos um coração de carne em substituição ao coração de pedra, e neste coração Deus escreveu a sua lei; o Senhor nos deu um novo espírito, o seu próprio Espírito que hoje habita em nós; somos o seu povo e Ele é nosso Deus. Com isto recebemos o selo do Espírito Santo, que é o penhor de nossa salvação.

Em Gálatas 5.22,23, Paulo nos ensina acerca do fruto do Espírito Santo, também derramado no coração dos que amam a Deus: “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei”. Com relação à unidade espiritual da igreja, Paulo nos ensina na carta aos Efésios que existem quatro sementes especiais, que se tornarão frutos para a manutenção do vínculo da paz:
“Com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef 4.2,3).
A humildade, a mansidão e a longanimidade são três características muito importantes para o bom relacionamento entre as pessoas e um excelente exemplo a ser dado pelos cristãos: (1) Humildade  vida e morte, serviço e sacrifício, sem se preocupar com a reputação ou reconhecimento; (2) Mansidão  submissão, suavidade no trato, docilidade de caráter; (3) Longanimidade  firme paciência no sofrimento ou infortúnio, não deseja vingar-se do mal; (4) Suportar em amor  ser clemente com a fraqueza dos outros, não deixando de amá-los (amor incondicional, amor ágape).

Devemos nos encher do Espírito Santo para sermos solo fértil, produzindo esse fruto, e assim seremos uma igreja que agrada ao Senhor e que não faz acepção de pessoas.