terça-feira, abril 27, 2010

Espiritualidades em busca de sujeitos

Fiz uma leitura do texto “Comércio do Sagrado: origem e explicações”, do Pr. Dionísio Oliveira da Silva, e conclui que temos pensamentos bem parecidos sobre a "espiritualidade" dos pregadores midiáticos. Essa espiritualidade aparentemente deseja um novo bezerro de ouro, que represente a preferência de um povo em manter-se escravo de suas conveniências, em vez de estar livre como povo autônomo, mas, com o compromisso de servirem a Deus, a seus semelhantes e a terra. Ao idolatrarem o materialismo passam a limitar a divindade, a espiritualidade, para que não haja a necessidade de compromisso com o divino nem com o semelhante.

Ao abordarem a fé cristã desta forma, os pregadores televisivos principalmente, criaram um culto velado ao mercado, com práticas consumistas. Um deus não representado por nenhum ícone, ou desenho, mas, que está vivo e atuante na vida de todos nós, religiosos ou não. Uma compulsão caracterizada pela busca incessante de objetos novos sem que haja necessidade dos mesmos. Criou-se uma mentalidade de que quanto mais se consome mais se tem garantias de bem-estar, de prestígio e de valorização, já que na atualidade as pessoas são avaliadas pelo que possuem e não pelo que são.

O consumismo tornou-se uma forma de “testemunho” de prosperidade, poder e prestígio, alcançados por aqueles que seguem religiosamente os mandamentos do mercado, onde ter é mais importante que ser (e que o ser). Onde as coisas passam a ser mais importantes que as pessoas e a projeção individual o clímax paradisíaco do fiel. Tal testemunho nem sempre é fruto de sucesso, uma vez que muitas pessoas, no afã de se sentirem tão abençoados como os demais, compram compulsivamente e se endividam para obterem reconhecimento de seus “irmãos”.

Essa espiritualidade é escravizante, promove uma luta diária contra tudo e contra todos para alcançar cada dia mais robustez financeira, legalmente ou nem tanto. Mesmo que isso lhe custe a saúde, a própria vida, ou a família, porque, para ser bem-sucedido nesse mundo, não se pode perder tempo com o outro. Aliás, é sempre dos outros que os sacerdotes tiram para colocar na mão de pouquíssimos merecedores. Nesta igreja, tal doutrina é conhecida como “máxima concentração de renda”.

Em minha opinião a Igreja cristã deveria valorizar mais um paradigma profético de valoração do oprimido, a Igreja (como Deus) deve preocupar-se em anunciar e fomentar a vida; suprindo-lhe de bens materiais, mas, principalmente, da dignidade do ser. O que o mundo precisa hoje é conscientizar-se da necessidade de se construir uma sociedade mais fraterna, justa e humana.