Tenho um amigo que ocupa um cargo no alto escalão do governo, apesar disso é uma pessoa simples e acessível, bem diferente da maioria dos colegas. Em uma conversa ele trouxe interessantes informações sobre o motivo desses indivíduos serem tão soberbos.
Começa com seu primeiro dia de trabalho, pois, ao chegar ao serviço viu que não portava seu crachá. Coisa que se eu fizer terei que me identificar na portaria com RG, tirar foto na webcam e ser obrigado a utilizar um adesivo com minha identificação. Nada contra por sinal, segurança é importante. No caso de meu amigo foi assim ao deparar-se com o segurança no hall dos elevadores:
- Ih rapaz! Reparei que esqueci meu crachá.
E o segurança lhe respondeu: - Não senhor, o senhor está devidamente identificado!
Então apontou-lhe o bottom do órgão em que trabalha. Detalhe, não tem mais que dois centímetros em qualquer direção...
- Aliás - disse o segurança, - seu elevador privativo já chegou.
Então o segurança postou-se à porta e com várias mesuras abriu-lhe caminho e ainda apertou o botão do número do andar.
Até aí tudo bem, meu amigo sentiu-se lisonjeado achando que aquilo era coisa de primeiro dia de trabalho. Entretanto, a saga continua na hora de servirem o café:
- Ah moça, não posso tomar café. Estou com gastrite...
- Mas, - replicou a copeira - o senhor pode tomar um "suquinho"? Limão, laranja, ou outra polpa?
- Posso, qualquer um... - Nem terminou de falar e seus "suquinhos" já estavam agendados para os horários, e sabores, que ele designou após breve entrevista com a copeira. No caso dele ele mesmo teria que comprar as polpas, mas, "não é assim em outros órgãos", afirmou.
Como chegava sempre no horário, isonômico a qualquer servidor público federal, foi questionado pelo fato de ter um cargo elevado e estar chegando tão cedo.
- Querido, que é isso, não precisa chegar tão cedo! Nenhum chefe chega, você não deve ser o primeiro...
Outro comentário interessantíssimo:
- Rapaz, vim lhe pedir um negócio. Você está entregando seus resultados muito rápido, diminua a velocidade senão vão começar a cobrar isso da gente também. Pô velho, não joga contra né!
Isso tudo entre outras coisas que envolviam algumas maracutaias, sugeridas para aumentarem o orçamento: caixa 2, mensalão, etc. Que são situações já bem conhecidas de todo brasileiro. Essa parte não tão explícita quanto as comentadas acima, mas, presentes de fato apesar de não deixarem rastro para comprovação.
Então, já sabemos disso, ele tem carro a disposição, pode viajar sempre que achar necessário (via aérea, claro), se vier de fora terá auxílio aluguel ou residência funcional, gratificações, status de poder e prestígio, bajuladores, mulheres lindas sendo tão simpáticas e prestativas como nunca foram antes da promoção e participa de um círculo praticamente impenetrável para os demais.
Algumas pessoas, como meu amigo, chegam a sua posição por competência, mas, garantindo que isso não é a realidade mais contundente nessa situação. A maioria é indicação política, os famosos "amigos do rei" que ficam mamando nas tetas do governo, engordando seu caixa e deixando a maioria mais pobre e carente. Agora, o que me deixa profundamente irritado, é saber que essas pessoas fazer qualquer coisa para não "largar o osso". Mentem, subornam, ameaçam, matam, mandam matar, seqüestram, manipulam, fazem teatro, choram, reclamam, escondem, confundem, vendem seus corpos, vendem os corpos dos outros, de suas mães, mas, nunca são honestos. E, além disso, tratam pessoas que não estão em seu "nível" de poder, em termos de posição e poder financeiro, como leprosos.
Além dos canalhas acima existem ainda outros tipos de "celebridade", gente do tipo que expõe toda sua mediocridade midiática e se torna idolatrada no país dos manés, ou em suas comunidades (inclusive nas religiosas). Gente que não vale um centavo ganha status de rei disso ou daquilo e a ovação da grande massa.
Mais interessante de tudo, é que ao chegar numa alta condição de poder e prestígio, a grande multidão de adoradores dessas figuras legendárias, se torna um tipo de ser a ser explorado mas não valorizado. É alguém cujo lombo vai carregar o peso de sustentar as vaidades desses inúteis.
Certo dia, no elevador, entrou uma senhora que, com o nariz empinadíssimo, ficou muito junta à porta. Não entendi o porquê daquilo, uma vez que o elevador nem estava cheio, mas, logo descobriria. Na hora de sair do elevador, toquei seu ombro e pedi licença, - "arrgh, precisa me tocar"? Virou-se e com cara de nojo saiu do elevador para que eu pudesse passar. Olhei em volta e os olhares dos demais se entrecruzaram num típico "puxa vida, que foi isso"? Nesse dia me senti o "cocô da pulga do cavalo do bandido", como se estivesse caído num chiqueiro, me elameado todo nas porcarias daqueles animais.
Pior de tudo, não foi e nem será a primeira vez. Não somente com relação à minha pessoa, indivíduo asseado, trajado em conformidade com cada ambiente, empregado, pagador fiel de tributos e demais contas, educado em casa por pai e mãe, Ministro do Evangelho, bom pai e marido fiel, mas, com outras pessoas comuns como eu que sempre batalham dia-a-dia, matando um leão diariamente, com honestidade e o pouco de dignidade que guardaram de herança familiar. Nada disso digo para exaltar minha pessoa, entretanto, não exaltaria outras também. Somos todos iguais.
Enfim, não consigo enxergar um motivo sequer que dê direitos a alguns de tratarem os outros como esterco. Aos soberbos, por qualquer motivo, deixo o registro bíblico: "Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu (Ap 3.17).
Desculpem-me pelo tom zangado, mas eu fico mesmo "brabo" com esse tipo de coisa, principalmente quando acaba de acontecer...