segunda-feira, dezembro 07, 2009

Pesquisador levanta dúvidas sobre idade de Jesus ao morrer

Fundador do cristianismo pode ter morrido com até 39 anos. Datas do governo de Pilatos e de Herodes ajudam a estimar isso.

Da EFE

O debate histórico sobre o dia no qual Jesus Cristo foi crucificado no monte Gólgota continua cheio de incógnitas e contradições surgidas dentre os documentos históricos, dos evangelhos, da astronomia e da tradição. Faltando uma prova esclarecedora, para chegar a uma conclusão é preciso decifrar um complexo quebra-cabeças de pistas: "Pegar o bisturi da crítica" frente ao conteúdo dos evangelhos e desvendar com um grande "temor reverencial" e "dor de cabeça teológico" o que há de histórico e de propagandístico nele.

Quem explica isso é o professor de Filologia Grega da Universidade Complutense de Madri e especialista em Linguística e Literatura do Cristianismo Primitivo, Antonio Piñero, autor do livro "La verdadera Historia de la Pasión". Com a pesquisa, foram derrubadas alguns conceitos arraigados. O primeiro deles tem a ver com a idade de Jesus no momento em que morreu.

"Historicamente, não se pode dizer que Jesus morreu com 33 anos", explica Ramón Teja Casuso, professor de História Antiga da Universidade da Cantábria. "Cada povo parte de seu feito mais importante para medir o tempo. E Dionísio, o Exíguo, o monge e matemático que estabeleceu no século VI qual era o ano em que Jesus nasceu, estava errado", assegura Teja.

Investigações históricas posteriores demonstraram que Herodes, o Grande, que era rei da Judéia durante o nascimento de Jesus e suposto responsável pela perseguição e massacre das crianças com menos de dois anos, teria morrido, na realidade, no ano 4 a.C., e, por isso, Cristo teria nascido no ano 5 a.C. ou 6 a.C., paradoxalmente. Essa vertente, que não teria por que contradizer o fato de Jesus ter morrido aos 33 anos, entra em choque com a história que diz que Pôncio Pilatos, o prefeito de Judéia, "lavou as mãos" antes de decidir se executaria Cristo ou Barrabás.

Pôncio Pilatos "ocupou este cargo entre 29 e 37 d.C.", afirmou Teja, o que significa que Jesus morreu com entre 34 e 42 anos. De onde vem, então, a ideia de que Cristo morreu aos 33? Os evangelhos nunca afirmam tal coisa, mas Lucas, no capítulo 3, conta que "quando Jesus começou o seu ministério, tinha cerca de 30 anos". Já o Evangelho de João descreve até três Páscoas nas quais Jesus vai a Jerusalém (curiosamente, Marcos, Mateus e Lucas só falam de uma), o que fundamenta a crença popular cristã de que seriam 33 os anos de vida do Messias.

Para se aproximar mais de uma data exata, Antonio Piñero considera que é preciso fazer uma investigação astronômica. "Ele morreu em uma sexta-feira com lua cheia em Páscoa, por isso sabe-se que 15 de Nisã - o primeiro dos 12 meses do calendário judaico -, que é quando se comemora a Páscoa judaica, reunia essas condições" entre os anos citados. "O resultado é que há duas opções: 7 de abril do ano 30, segundo o qual Cristo teria morrido com 36 anos, e 3 de abril de 33, no qual Cristo teria 39", assegura.

Piñero considera mais provável a data de 7 de abril do ano 30 como data de sua morte, e encontra a explicação em Paulo de Tarso, também conhecido como São Paulo, e uma das fontes mais fidedignas da doutrina católica através das Epístolas Paulinas. "A descoberta de uma inscrição demonstra que o prefeito regional que julgou Paulo em Corinto, capital de Acaia, esteve ali nessa cidade entre junho de 51 e junho de 52", segundo o especialista. Isto faz com que, "se o ano de 33 for considerado como o da morte de Cristo, o cálculo seja muito ajustado", explica o professor, levando em conta que Paulo passou, após a morte de Jesus, três anos meditando e, depois, 15 dias em Jerusalém e 14 anos pregando.

Jesus teria morrido, então, em 7 de abril do ano 30? Piñero ainda expõe uma ressalva.

"É minha opinião, mas acho que é mais provável que Jesus tenha sido crucificado na quinta-feira, pela simples razão de que, se foi crucificado às 15h de sexta-feira, teria morrido caída a tarde. Isso, para os judeus é o novo dia, ou seja, sábado (Shabat), dia de descanso", argumenta Piñero. "A crucificação em dia de descanso teria sido uma profanação monumental. É mais possível que não tenha sido crucificado na sexta-feira, mas na quinta-feira. Ou seja, não em 7, mas em 6 de abril do ano 30 d.C.", conclui.