Uma breve análise devocional
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I Co 1.1-8
“1 Paulo, chamado pela vontade de Deus para ser apóstolo de Jesus Cristo, e o irmão Sóstenes, 2 à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados
I Co 3.1-3
“1 Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em Cristo. 2 Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não podíeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis, porque ainda sois carnais. 3 Porquanto, havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem?”
Paulo em sua saudação e ação de graças, afirma que os Coríntios foram muito abençoados por Deus: “em toda a palavra e em todo o conhecimento... de maneira que não vos falte nenhum dom” (vv. 5,7). Era uma igreja de homens inteligentes, conhecedores da palavra de Deus e dotados de todos os dons espirituais. Porém, no terceiro capítulo desta carta, Paulo afirma duramente que apesar de seu conhecimento, eloqüência e dons espirituais, os coríntios não eram crentes espirituais, mas agiam como homens carnais. Havia na igreja de Corinto uma série de problemas: (1) Facções em favor de homens (1.12); (2) inveja e contenda (3.3); orgulho (3.21; 4,7); imoralidade (5.1); ações na justiça dos homens (6.1-8); freqüência a festas idólatras (caps. 8-10); exercício errado dos dons espirituais (caps. 12-14); e distorção da Ceia do Senhor (11.20-34). Tal situação demonstra uma total ausência de amor, o que nos faz questionar se alguém pode ser espiritual sem cumprir o segundo maior mandamento ensinado por Cristo (Mt 22.39).
Há ainda algo interessante a se notar nos textos que lemos. Na língua portuguesa a palavra espiritual é uma só, tanto para expressar a propriedade dos dons quanto para expressar a condição de um homem maduro na fé. Entretanto, no grego a palavra que se refere a dom espiritual é carismati (charísmati, de charismata – dom carismático), e a palavra que se refere ao crente espiritual é pneumatikoij (pneimátikis), ou seja, duas palavras distintas para duas coisas distintas. Uma coisa é o crente possuir dons espirituais, outra coisa é o crente ser espiritual, movido e amadurecido em sua experiência diária com o Espírito Santo.
Para entender melhor isso, vejamos quais os ensinamentos de Paulo nos capítulos 12 ao 14 de I Coríntios, acerca dos dons espirituais. A primeira frase de grande impacto é: “A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso” (12.7), necessariamente o dom espiritual visa um fim proveitoso. No capítulo 14, Paulo ensina que o dom de línguas, por exemplo, só edifica quem o possui, ele afirma que seria mais interessante profetizar (pregar o evangelho), ou falar quatro palavras que a igreja entendesse do que mil em línguas, porque ninguém o entenderia e não seria edificado. Para que os dons sejam proveitosos é importante que se manifestem diferenciadamente. Ele ensina no capítulo 12 que a igreja é o Corpo de Cristo e que como corpo não tem um só membro, mas vários, e cada membro tem uma função (I Co 12.12-31), tudo isso refere-se aos dons espirituais na igreja. Por exemplo, um mestre precisa de discípulos para que seu dom seja útil; o evangelista é quem traz novos discípulos para o mestre. Cada qual em sua função. Assim, a Igreja, que é o corpo vivo de Cristo, deve usar seus dons para seu funcionamento prático da comunhão, testemunho e serviços cristãos.
Antes de continuar sua explanação sobre os dons espirituais, Paulo interrompe abruptamente seu discurso no capítulo doze e inicia outro assunto no capítulo 13. Antes de explicar quais são “os melhores dons”, conforme ele faz no capítulo 14, Paulo precisa indicar qual a condição essencial para o exercício apropriado de qualquer dom – o amor.
1 Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine. 2 Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. 3 E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará (I Co 13.1-3).
O texto fala por si só, Paulo estava tremendamente certo ao afirmar que toda a escritura é inspirada pelo Espírito Santo. Só o amor de Deus derramado em nossos corações, é que nos dá a capacidade de utilizarmos nossos dons espirituais para a glória de Deus e não para a nossa própria. Paulo deixa muito claro que a plenitude do Espírito Santo não é a prática dos seus dons (os coríntios tinham todos), mas a produção de seus frutos fundamentados pelo amor.
Espiritualidade
“Mas o fruto do Espírito (tou/ pneu,mato,j) é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei. E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito” (Gl 5.22-25).
Uma vez que a boa semente do Evangelho tenha caído em terreno fértil, nossa natureza fora transformada (II Co 5.17), e não andamos mais segundo as paixões da nossa carne, deixamos de viver para satisfação de nossos desejos e passamos a viver no Espírito de Deus. Inicia-se um processo contínuo que deve nos levar à perfeição (Ef 4.13). Os frutos do Espírito Santo são os sinais ideais de nossa espiritualidade. Um fruto precisa ter sido primeiramente uma semente, depois uma árvore (Sl 1.3) e no devido tempo se evidenciará. Para que isso aconteça devemos dar condições para o crescimento desta semente, precisamos de: (1) Água (Jo 7.37-39); (2) Adubo (abnegação, obediência e resignação – Lc 9.23) e (3) Luz (amor, fé e arrependimento – Jo 8.12; 15.9; Rm 1.17 e Lc 5.32).
No Sermão do Monte podemos ver o retrato de um crente espiritual nas bem-aventuranças de Cristo (Mt 5.1-11).
Aqui o crente espiritual é bem-aventurado porque:
- é humilde (pobre) de espírito (v.3) – Ele sabe que depende totalmente de Deus e em si mesmo é incapaz de achegar-se a Deus.
- porque chora (v.4) – Porque perderam a inocência e viram-se como pecadores e pobres de espírito. Sua vergonha é transformada em honra pela misericórdia de Deus.
- porque é manso (v.5) – Em sua humildade de espírito e reconhecimento de seu passado de pecado, torna-se gentil e tem auto-controle.
- porque tem fome e sede de justiça (v.6) – De justiça espiritual que na Bíblia tem três aspectos: o legal, o moral e o social. Esse crente não tem amor por bens materiais e se sujeitam à justiça de Deus e não dos homens (Rm 9.30-33).
- porque são misericordiosos (v.7) – Por conhecerem suas próprias dificuldades, são pessoas que se compadecem da necessidade de outros.
- porque são limpos de coração (v.8) – Foi purificado de toda imundície moral (Mt 23.25-28).
- porque são pacificadores (v.9) – Fomos chamados para a reconciliação, para pacificar, “buscar a paz”, “seguir a paz com todos” e, até onde depender de nós, “ter paz com todos os homens” (I Co 7.15; I Pe 3.11; Hb 12.14; Rm 12.18).
- porque são perseguidos por causa da justiça (v.10) – A perseguição por parte dos ímpios é uma certificação de nossa vida em Cristo, “pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós (v.12b)”, se somos perseguidos é por causa de nossa lealdade a Cristo (v.11).
Como Paulo ensina no segundo verso do terceiro capítulo, o alimento dos que são crianças na fé é o leite. O cristão espiritual não é mais uma criança, ao contrário, é um varão perfeito que chegou a estatura de Cristo, um homem amadurecido na vida cristã tanto pelo conhecimento da palavra como em sua vivência. Um indivíduo que não só aprendeu a letra das Sagradas Escrituras, mas que a experimentou no seu dia-a-dia seguindo suas orientações, desejando agradar a Deus e dando ouvidos ao seu Espírito. Para este homem o mundo não interessa, nem suas “deliciosas” ofertas, o que lhe interessa é aniquilar seus desejos e colocar-se cativo, todos os dias, à vontade do Senhor.
Podemos imaginar o quanto muitos pensam ser difícil viver para Cristo, podemos até concordar nesse ponto se excluirmos a ação do Espírito Santo em nossas vidas, mas, com a ação do Consolador somos capazes de crer que nós podemos seguir plenamente os ensinamentos da Bíblia. Assim declara o apóstolo João: “Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos” (I Jo 5.3). Sabemos que para esta jornada não estamos sozinhos e que podemos beber sempre da “fonte de água viva”, assim “podemos todas as coisas naquele que nos fortalece”.