segunda-feira, março 09, 2015

Teologia e ação social

A Igreja de Cristo hoje é um exemplo do que ela não deve ser. Sua negligência diante da sociedade e da injustiça em nosso país e no mundo, preferindo ficar inerte entre as quatro paredes do templo discutindo temas bíblicos e, num comportamento escapista, insistindo na fé cristã como uma simples norma de conduta pessoal espiritualizada, — pois ignora aspectos econômicos, políticos e sociais e seus efeitos na desigualdade e na ampliação da miséria, — é contraproducente e está longe de ser condizente com os ensinamentos de Jesus. 

Para a promoção do envolvimento da Igreja em questões sociais, seriam necessárias atividades que não lhe são peculiares, mas, que fomentariam o conhecimento da realidade concreta em que as instituições cristãs deveriam se engajar. São atividades, debates e eventos públicos que tratem de todas as dimensões da sociedade onde temas relevantes para o cotidiano pudessem ser tratados e alinhados com uma conduta cristã adequada com relação a seu semelhante e com o meio-ambiente, tais como: Violência doméstica, exploração sexual e exploração sexual infantil, trabalho escravo, pobreza e desigualdade social, desmatamento e destruição das florestas brasileiras, água (desperdício e poluição), grilagem de terras, etc. 

Essa perspectiva de ação não é nova, é disso que se trata a “Missão Integral da Igreja”, que entre discussões e controvérsias que vêm desde 1974, em Lausanne, tem se preocupado com o envolvimento da Igreja em questões sociais concretas para o benefício da coletividade e não do indivíduo materialista pós-moderno. Assim como Cristo fez na sociedade em que viveu, envolvendo-se em todos os aspectos possíveis da vida daqueles com quem se encontrava. Fazendo-nos entender que, assim como em sua vida todos os eventos em que ele estava envolvido ocorria uma ação transformadora, a Igreja também pode ser agente de transformação do mundo sob sua orientação. Para a Igreja, nesse caso, ocupar-se com questões sociais é integrar o ministério de Jesus em relação à sua própria missão para com o próximo, agindo e ensinando a comunidade o caminho que devem seguir.

Assim como Jesus, a Igreja deve ser movida por compaixão pelos oprimidos, pelos marginalizados, pelo amor a justiça e a verdade. Como afirma o Pr. Ed René Kivitz: “A convocação da missão integral, enfim, envolve uma rendição completa ao senhorio de Jesus Cristo, para perdão dos pecados e recebimento do dom do Espírito Santo, a partir do que se passa a integrar um corpo, o corpo de Cristo, ambiente para a experimentação coletiva dos benefícios da cruz. É este corpo o responsável por transbordar tais benefícios ao mundo, como anúncio profético do novo céu e da nova terra. O caminho missiológico e pastoral da missão integral é afetivo – relacional, em detrimento de metodológico –; operacional; comunitário, em detrimento de institucional; devocional, em detrimento de gerencial”.

Se a Igreja passar a ter uma visão holística de seu ambiente, se tornará uma poderosa agente de transformação de fato, cumprindo com louvor o imperativo de Cristo para a salvação dos perdidos, para o crescimento do Reino e para a glória de Deus. Mas, para isso, precisa superar grandes desafios que impedem a sua unificação em torno desse mesmo objetivo.