quarta-feira, janeiro 19, 2011

ESTUDOS SOBRE AS DOUTRINAS DA GRAÇA DE DEUS

Eleição e Reprovação


Eleição

Eleição é um ato de Deus, antes da criação, no qual ele escolhe algumas pessoas para serem salvas, não por causa de algum mérito antevisto delas, mas somente por causa de sua suprema vontade.

Nosso estudo consistirá, primeiramente, em citar várias passagens do NT que confirmam a eleição. Tentar compreender os propósitos de Deus, esclarecendo esta doutrina e refutar a algumas objeções à eleição.
Várias passagens do NT afirmam com muita clareza que Deus determinou de antemão quem seria salvo.

- At 13.48 - Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna.

- Rm 8.38-39 - Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.

- Rm 9.11-13 - E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o pro-pósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama), já fora dito a ela: O mais velho será servo do mais moço. Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú.

- Rm 11.7 - Que diremos, pois? O que Israel busca, isso não conseguiu; mas a eleição o alcançou; e os mais foram endurecidos.

- Ef 1.4-6 - Assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Ama-do.

- Ef 1.12 - A fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo.

- I Ts 1.4,5  - Reconhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição, porque o nosso evangelho não che-gou até vós tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção, assim como sabeis ter sido o nosso procedimento entre vós e por amor de vós.

- II Ts 2.13 - Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade.

- I Tm 5.21 - Conjuro-te, perante Deus, e Cristo Jesus, e os anjos eleitos, que guardes estes conselhos, sem prevenção, nada fazendo com parcialidade.

Quando Paulo fala sobre a razão pela qual Deus nos salvou e nos chamou a si, ele explicitamente nega que foi por causa de nossas obras, mas indica, em vez disso, que é por causa do propósito do próprio Deus e de sua graça imerecida desde a eternidade passada. Ele diz que Deus é aquele “que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos” (II Tm 1.9).

- I Pe 1.1 - Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia.

- I Pe 2.9 - Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.

- Ap 13.4-8 - E adoraram o dragão porque deu a sua autoridade à besta; também adoraram a besta, dizendo: Quem é semelhante à besta? Quem pode pelejar contra ela? Foi-lhe dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias e autoridade para agir quarenta e dois meses; e abriu a boca em blasfêmias contra Deus, para lhe difamar o nome e difamar o tabernáculo, a saber, os que habitam no céu. Foi-lhe dado, também, que pelejasse contra os santos e os vencesse. Deu-se-lhe ainda autoridade sobre cada tribo, povo, língua e nação; e adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo.

- Ap 17.8 - a besta que viste, era e não é, está para emergir do abismo e caminha para a destruição. E aqueles que habitam sobre a terra, cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida desde a fundação do mundo, se admirarão, vendo a besta que era e não é, mas aparecerá.

Nestes dois textos de Apocalipse vemos que se algumas pessoas não tiveram seus nomes escritos no Livro da Vida, antes da fundação do mundo, é óbvio que outras tiveram. Nesse caso encontram-se os eleitos de Deus.


O Ensino da Eleição no Novo Testamento

Como o NT caracteriza a eleição?

1. Como um consolo. “E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Rm 8.30). Olhando para o futuro, quando Cristo retorna, vemos que Deus determinou proporcionar corpos glorificados, perfeitos àqueles que crêem em Cristo. De eternidade a eternidade Deus tem agido com o bem de seu povo em mente, por isso “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (v.28) e isso deve nos trazer conforto em qualquer circunstância de nossa vida.


2. Como uma razão para louvar a Deus. Deus “nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça” (Ef 1.5,6), no verso 12 ele diz: “para o louvor de sua glória...”. Em I Ts 1.2,4, Paulo da graças a Deus por saber que Deus os escolheu para a salvação, isso é igualmente esclarecido em II Ts 2.13. A doutrina da eleição amplia o louvor dado a Deus por nossa salvação e diminui seriamente qualquer orgulho que possamos sentir baseados no pensamento de que nossa salvação deveu-se a alguma coisa boa em nós ou alguma coisa pela qual devemos receber o crédito.


3. Como incentivo à evangelização. Paulo diz: “Tudo suporto por causa dos eleitos, para que também eles obtenham a salvação que está em Cristo Jesus, com eterna glória” (II Tm 2.10). A eleição é a ga-rantia de Paulo de que haverá algum sucesso em seu trabalho missionário. É como se alguém nos convidasse para uma pescaria e dissesse: “Eu garanto que vocês pegarão alguns peixes – eles estão famintos e aguardando”.


Equívocos a Respeito da Doutrina da Eleição

1. A eleição é fatalista e mecanicista. Segundo esta afirmação, não importa o que pensamos ou faze-mos, independentemente disso ocorrerá o que Deus determinou e pronto. As coisas foram determina-das por uma força impessoal e tudo funcionará segundo esta força como uma máquina, eliminando a genuína personalidade humana e sua vontade própria.
Contra o mecanicismo, o NT apresenta a realização da nossa salvação como algo efetuado por um Deus pessoal numa comunhão pessoal com suas criaturas (Ef 1.5). O Ato da eleição da parte de Deus foi permeado com amor pessoal por aqueles a quem ele escolheu.
Contra o fatalismo, o NT ensina que nós não apenas fazemos conscientemente escolhas como pesso-as reais, mas as próprias escolhas são também escolhas reais, porque afetam o curso dos eventos no mundo. Elas afetam tanto nossa própria vida quanto o destino dos outros (Jo 3.18). Devemos acrescentar nessa discussão, que nossa vontade sempre foi causada por alguma influência, seja interna ou externa. No caso da salvação, Deus está sempre tomando a iniciativa para que nossa vontade se realize em conformidade com a dele e de seus propósitos. Ninguém toma decisões casuais e sim decisões causadas, ou pela graça de Deus para salvação, ou pela sua justiça para condenação. Agora, não cabe a nós julgarmos os critérios de Deus para a eleição ou para a reprovação (Jó 40.1-9).


2. A eleição se baseia na presciência de Deus sobre a nossa fé. Julga-se aqui que a razão fundamental porque alguns são salvos e outros não encontra-se dentro das próprias pessoas, não dentro de Deus. O NT ensina algo diferente: “Em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Je-sus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos con-cedeu gratuitamente no Amado” (Ef 1.5,6) e ainda “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8,9). Deus nos salvou segundo o beneplácito de sua vontade, não segundo uma possível pré-disposição do homem em buscá-lo, bem como, fomos salvos pela graça, oriundas de si mesmo e de seu amor, também longe de ser algo que está no homem mas certamente algo que é dom de Deus.
a. O conhecimento prévio de Deus é das pessoas e não dos fatos.  Muitos afirmam que quando Paulo escreveu: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem con-formes à imagem de seu Filho”, estava se referindo a presciência de Deus com relação às inclinações salvíficas dos eleitos, em aceitarem a Cristo. Porém, Paulo está se referindo a outro tipo de conhecimento da parte de Deus (I Co 8.3; Gl 4.9). Quando as pessoas conhecem a Deus pelas Escrituras, ou quando Deus as conhece, esse é um conhecimento pessoal que envolve uma intimidade que salva. Portanto, podemos entender Romanos 8.29 como:  “aqueles a quem ele há muito tempo considerou como estando numa comunhão salvadora com o próprio Deus”. O texto realmente nada diz sobre Deus conhecer de antemão ou antever que certas pessoas creriam, nem essa idéia é mencionada em qualquer outro texto nas Escrituras.

b. Em lugar nenhum das Escrituras encontramos que Deus nos escolheu por causa da nossa fé.  As Escrituras nunca falam que a nossa fé ou o fato de que viríamos a crer em Cristo foi a razão pela qual Deus nos escolheu. Temos fé em Deus porque fomos escolhidos, a fé é o canal pelo qual recebe-mos a graça salvífica de Deus (Ef 2.8; Rm 11.5-6).

c. A eleição baseada em alguma coisa boa em nós (nossa fé) seria o começo da salvação por mé-ritos. Se o fator principal e determinante em nossa eventual salvação é nossa própria decisão de aceitar Cristo, então estaremos inclinados a pensar que merecemos algum crédito pelo fato de sermos salvos: ao contrário de outras pessoas que continuam a rejeitar Cristo, nós fomos suficientemente sábios em nosso julgamento, ou bons o bastante em nossas inclinações morais ou tivemos bastante discernimento em nossas faculdades espirituais para decidir crer em Cristo (Ef 2.8,9). Mas uma vez que comecemos a pensar dessa maneira, então diminuiremos seriamente a glória devida a Deus pela nossa salvação.

d. Predestinação baseada em conhecimento prévio também não dá livre arbítrio às pessoas. Do ponto de vista de que Deus declara eleito alguém por conhecer sua predisposição futura, podemos verificar que a liberdade real do homem foi aniquilada. Deus pode examinar o futuro e ver que a pessoa A vai exercer fé em Cristo, e que a pessoa B não vai exercer fé em Cristo; então esses fatos já estão fixados, já estão determinados. Se temos por verdadeiro que Deus conhece o futuro (o que tem de ser), então, é absolutamente certo que a pessoa A crerá, mas não a pessoa B. Portanto é legítimo dizer que o destino delas está ainda assim determinado, pois não poderia ser de outra maneira.

e. Conclusão: a eleição é incondicional. Parece melhor, pelas quatro razões prévias, rejeitar a idéia de que a eleição é baseada no fato de que Deus tem presciência de nossa fé. Concluímos em vez disso que a razão para a eleição é a escolha soberana de Deus (Ef 1.5). Deus nos escolheu simplesmente porque decidiu derramar seu amor sobre nós – não porque anteviu em nós alguma fé ou mérito.


Objeções à Doutrina da Eleição

1. A eleição significa que não temos opção de aceitar Cristo.  A doutrina da eleição não nega nenhum convite feito no evangelho, para a salvação. A eleição ensina que nossas escolhas são totalmente voluntárias porque são o que queremos e o que decidimos fazer. Isso não quer dizer que nossas escolhas sejam absolutamente livres, porque Deus pode e opera tão soberanamente em nossos desejos que garante que nossas escolhas tornem-se como ele determinou, mas isso ainda pode ser entendido como uma escolha genuína e real pois Deus é a origem de tudo o que é genuíno e real. Podemos dizer que Deus faz com que nos decidamos por Cristo voluntariamente. A suposição equivocada por trás dessa objeção e que a escolha deve ser feita absolutamente livre (isto é de forma alguma causada por Deus) a fim de que seja uma escolha genuinamente humana.


2. Com base nessa definição de eleição, nossas escolhas não são escolhas reais. Se Deus nos faz de determinada maneira e nos diz que nossas escolhas voluntárias são genuínas, então temos de con-cordar que são. Deus, como já dissemos, é a definição, é a origem, do que é real e genuíno no univer-so. Onde as Escrituras dizem que nossas escolhas têm de ser livres da influência ou do controle de Deus a fim de que sejam reais ou genuínas?

3. A doutrina da eleição faz com que sejamos marionetes ou robôs, não pessoas reais. Se Deus nos criou devemos reconhecer que é ele quem define o que é a genuína pessoalidade. A nossa capa-cidade de fazer escolhas nos distinguem de categorias inferiores, como marionetes e robôs que são criações de homens. É Deus quem nos dá o certificado de fazermos escolhas genuínas originadas nele mesmo. Deus é a origem do universo e de tudo o que nele há.

4. Da doutrina da eleição decorre que os incrédulos jamais têm a chance de crer. Quando as pessoas rejeitavam a Jesus, ele sempre lhes atribuía a responsabilidade pela escolha deliberada de rejeita-lo, e não em algum decreto de Deus Pai (Jo 8.43,44; Mt 23.37; Jo 5.40; Rm 1.20). Num segundo nível, a resposta a esta questão já foi dada por Paulo: “Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim?” (Rm 9.20). Outro bom texto encontra-se em Jó 40.1-9 (interessante seria ler todo o discurso que Deus faz para Jó).

5. A eleição é injusta. Se todos pecaram e foram destituídos da glória de Deus tornando-se escravos do pecado, a única coisa que toda a humanidade merece realmente é a morte, pois “o salário do pecado é a morte”. Seria, portanto, perfeitamente justo que Deus resolvesse não salvar ninguém (II Pe 2.4). Mas se ele de qualquer modo salva alguns, isso é uma demonstração de graça que vai muito além das exigências da eqüidade e da justiça. Esse conceito de justiça em que Deus deve “dar uma chance a todos igualmente” é próprio de nós seres humanos, porém, nós realmente não temos o direito de impor a Deus percepções intuitivas do que é apropriado entre os seres humanos.

6. A Bíblia diz que Deus deseja salvar todo mundo. Todo o mundo até hoje encontrou salvação em Cristo, ou algumas pessoas morreram sem nunca terem ouvido sequer seu nome? Vemos na própria Bíblia que alguns já estão provando a perdição, pois foram rejeitados por Deus. Se Deus então deseja salvar todo mundo, nesse ponto ele é incapaz de realizar sua própria vontade, pois não pôde evitar nem que seus anjos se perdessem (II Pe 2.4). Se Deus quer salvar a todos por que a Bíblia insiste em afirmar que muitos perecerão? Se Deus é Todo-Poderoso não poderia evitar isso? Creio que, em sua justiça, Deus não queira salvar alguns (Rm 9.15,16).


A Doutrina da Reprovação

Reprovação é a decisão soberana de Deus, antes da criação, de não levar em conta algumas pessoas, decidindo em tristeza não salvá-las e puni-las por seus pecados, manifestando por meio disso a sua justiça.

- Jd 4 - Pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo.

- Rm 9.17-23 - Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome seja anunciado por toda a terra. Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz. Tu, porém, me dirás: De que se queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à sua vontade? Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra? Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição, a fim de que tam-bém desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de ante-mão.

- Rm 11.7 - Que diremos, pois? O que Israel busca, isso não conseguiu; mas a eleição o alcançou; e os mais foram endurecidos.

- I Pe 2.8 - Pedra de tropeço e rocha de ofensa. São estes os que tropeçam na palavra, sendo desobedientes, para o que também foram postos.

A reprovação é vista como algo que traz tristeza a Deus, não deleite (veja Ez 33.11), e a responsabili-dade pela condenação dos pecadores é sempre lançada sobre as pessoas ou anjos que se rebelam, nunca sobre o próprio Deus (Jo 3.18-19; 5.40). Assim, pelo que as Escrituras apresentam, a causa da Eleição está em Deus (misericórdia, graça), e a causa da reprovação jaz no pecador (justiça).