Pode ser que sim, pode ser que não. Não há no Novo Testamento nenhuma palavra (te,ktonoj) que realmente signifique “carpinteiro”. O que há é uma palavra que pode referir-se a carpinteiro tanto quanto a pedreiro, artífice, artesão, etc. Observando o texto grego do Antigo Testamento na LXX (Septuaginta – os textos: I Sa 13.19; I Re 13.11; Siraque 38.27; Os 8.6; Is 40.19,20; 41.7; 44.12,13, até Mc 6.3 no Novo Testamento); alguns trazem sua tradução como ferreiro, artífice, carpinteiro, pedreiro, artesão – conforme o contexto, o que reforça a questão.
Se Jesus era carpinteiro ou pedreiro não importa, ele continua sendo o Filho de Deus, o Todo-Poderoso. Essa é apenas uma pequena provocação para as perguntas que seguem.
Será que podemos confiar plenamente no sentido que damos às nossas interpretações dos textos bíblicos se não temos traduções perfeitas dos textos, ou se não temos formação suficiente nas línguas originais para garantirmos sua veracidade? Mesmo que nossas constatações sejam baseadas em pessoas com vasta formação em línguas primitivas, quanto poderíamos garantir que esses especialistas chegaram mesmo até a fonte primeva de sua investigação e foram capazes de fundamentar suas análises de forma conclusiva? Até que ponto a Teologia pode ser esgotada como ciência? A dogmática cristã, a partir do ponto de vista de cada denominação, está alicerçada em pontos pacíficos?
Hoje a Teologia tem muito mais recursos que a um ou dois séculos atrás, por isso a Igreja deve rever, com base em um mundo de novas possibilidades tecnológicas, arqueológicas, históricas e científicas, se seu discurso encontra-se em acordo com informações que influenciam direta e indiretamente o conteúdo da mensagem bíblica. Mesmo que tais informações sejam oriundas de meios seculares, podem contribuir para a investigação teológica fazendo-a buscar uma unidade possível na interpretação bíblica.
Jesus era um artífice (carpinteiro, pedreiro, artesão?), isso já é informação suficiente para termos certeza que precisamos valorizar ainda mais o estudo teológico, como possibilidade de unificação do discurso cristão e de sua prática.