O contexto social mundial evoca grandes preocupações com a grande quantidade de pessoas que tem vivido na miséria, ou, melhor dizendo, sobrevivendo abaixo da linha da pobreza. São muitos os países onde a expectativa de vida é muito baixa, e o grau de analfabetismo é enorme. Fatores que corroboram para um continuísmo de tal situação.
Interessante é notar que uma mudança na economia global, nesse caso em favor da extinção da pobreza, necessitaria de percentuais mínimos da riqueza mundial. O grande transtorno seria a mudança de uma consciência econômica voltada para a geração de riqueza, para uma economia voltada para a superação da pobreza, tendo a distribuição da renda como critério central nas tomadas de decisão políticas e econômicas.
Daí o envolvimento da teologia com a economia, articulando-se com o contexto histórico para denunciar e para dar direção a um paradigma profético de valoração do oprimido. Assim como a tradição bíblica é a da contradição entre a vida e a morte, a Igreja (como Deus) deve preocupar-se em anunciar e fomentar a vida; tanto suprindo-lhe de bens materiais quanto valorizando a dignidade do ser. A religião econômica que elege para si um Deus capitalista, que exige sacrifícios, deve ser convencida de que seus pressupostos precisam construir uma sociedade mais fraterna, justa e humana. A Igreja deve estar pronta para dar-lhe tal direcionamento.
Comparativamente à teologia, a economia também tem seu deus, seu paraíso e, progressivamente, ainda acha-se capaz de, em algum momento futuro, promover a vitória sobre a morte. Para seus cientistas, a economia é uma conseqüência evolutiva da humanidade para se tornar a resposta definitiva a todas as suas mazelas. Só que na tentação de fazer o bem, o acumulo excessivo, ou ilimitado, de riquezas não tem surtido o efeito desejado sobre uma grande parte da população mundial que ainda espera o seu milagre. Os pobres, nesse “culto”, são considerados sacrifícios necessários para um bem maior, aceitando seu destino como algo até natural para o desenvolvimento do “deus mercado”, pois compartilham também dos mesmos sonhos de consumo dos sacerdotes da economia.
Para quem tem “fé no mercado”, apesar dos sacrifícios exigidos, ainda é possível buscar a maximização do lucro nas relações de concorrência no mercado, ao mesmo tempo em que busca a partilha, a solidariedade, a ordenança de Lc 4.16-23, mesmo apesar da grande contradição natural à perversidade desse modelo econômico. A ressurreição de Cristo é a mensagem central e antagônica à divinização do mercado, assim era o testemunho das primeiras comunidades cristãs: “32 E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns. 33 E os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça. 34 Não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido e o depositavam aos pés dos apóstolos. 35 E repartia-se a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha” (At 4.32-35). Neste ponto, a ressurreição de Cristo esta envolvida por dois parágrafos que falam de questões econômicas: a coleta de bens e propriedades conforme as possibilidades de cada um e a distribuição deles segundo as necessidades de cada um, visando não ter necessitados entre eles. Uma partilha que transformava uma multidão em comunidade. A ressurreição de Cristo reflete um amor que garante a dignidade da vida pela graça de Deus, quando lutamos não somente porque temos certeza que venceremos o inimigo perverso, mas, pelo fato de que nos doamos pelos motivos certos, em busca do benefício da coletividade, da humanização da sociedade.