segunda-feira, junho 11, 2018

Pastoral - Evangélicos e Ética no Brasil


       O ethos evangélico é muito pouco diferente do ethos nacional, sendo predominantemente uma moralidade ou um testemunho pessoal. Mesmo sob a orientação divina de ser “diferente” o evangélico pouco se destaca do modo de ser de outras pessoas. Uma ética evangélica relevante para nossos tempos não pode ser desvinculada da teologia, sem ela a ética se dilui em busca de códigos de conduta cujo objetivo é só diferenciar evangélicos de não evangélicos.
            A ética dos brasileiros era uma ética patriarcalista, uma ética individual e de cumprimento de deveres, baseadas numa série de negações a prazeres sociais, tais como não fumar, não beber, etc. Nos dias de hoje a ética evangélica continua sendo uma questão de regras de conduta e de restrição de comportamento, havendo apenas certo relaxamento de costumes em relação ao período anterior, tendo o hedonismo e o consumismo como destaque. Escândalos sexuais e corrupção têm colocado a identidade evangélica em xeque.
            Ações sociais tomam o lugar de evangelismo e missões, a Igreja envolve-se mais em assuntos políticos falando-se em termos de cristandade, subordinando a teologia à ideologia, também buscando alcançar o poder para se beneficiar e para fazer do Brasil um país evangélico. Isso se dá pela pouca influência que a teologia tem dentro das comunidades cristãs, pois essa é de responsabilidade somente do clero e das suas instituições teológicas. Pensamento ético sem teologia se reduz a construção de códigos de conduta.
            Uma ética evangélica interessante baseia-se na liberdade alcançada em Cristo, que é exemplo de uma total entrega de vida ao Pai e uma vida plena de humanidade desejada pelo Criador. A liberdade é, portanto, conferida à humanidade mediante a integralidade da vida, morte e ressurreição de Cristo. Jesus é libertador mediante a sua solidariedade com a humanidade na escravidão que caracteriza a nossa condição, por herança. Em Cristo conquistamos a liberdade dessa escravidão mediante o Espírito de filiação enviado pelo Pai. O fundamento de nossa liberdade é a fidelidade de Cristo, que torna a graça libertadora de Deus presente na história. Jesus assume a maldição que recaía sobre a humanidade, libertando-a da maldição da Lei que não pode mais impedir o homem de alcançar a salvação, agora pela fé. Enfim, abre-se a possibilidade de uma vida plena de liberdade em Cristo.
            Conceber a ética cristã como ética de liberdade nos ajuda a reconfigurar unidade entre teologia, espiritualidade e ética. Como ética da liberdade cristã é uma ética da liberdade em amor, a prática cristã da liberdade equivale à prática do amor como o eixo da ética e espiritualidade cristãs.
A fé cristã se renova diariamente na vida de todos que por ela são livres, e, independentemente das falhas que seus seguidores cometem, ainda é uma instrução divina para o benefício da coletividade dos que crêem, servindo a humanidade de forma igualitária, justa, solidária e fraternal. A ética evangélica então deixa de ser somente baseada em códigos de conduta ou normas de comportamento, mas, na liberdade que foi alcançada em Cristo, pela fé, que pelo amor decorrente desta mesma fé se materializa em cidadãos do Reino de Deus que lutam permanentemente por sua manutenção.