segunda-feira, novembro 16, 2009

NADA VOS SERÁ IMPOSSÍVEL!


“E ele lhes respondeu: Por causa da pequenez da vossa fé. Pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele passará. Nada vos será impossível” (Mt 17:20).

Pronto, agora que encontramos um texto apropriado vamos tentar justificar nosso desejo de resolver tudo sem fazermos nada. Vamos determinar, pela fé, que tudo que queremos deve acontecer! Afinal, pode-se remover montanhas e realizar qualquer outra coisa, pois, a Palavra de Deus está dizendo que: “Nada vos será impossível”. Mas, será mesmo isso que Jesus Cristo está nos ensinando?

Repare, é fácil induzir pessoas a crerem em coisas aparentemente óbvias e, ao que parece, é claro que Jesus está dizendo que podemos todas as coisas por meio da fé. Porém, um texto analisado fora de seu contexto geral pode nos induzir ao engano, fazendo-nos descartar muitas verdades nele contidas para aceitarmos o que queremos que o texto diga. Isso é bem diferente de interpretar o texto, é dar-lhe nossa idéia do que ele está informando e isso é muito errado! Devemos tentar descobrir o que o autor do texto tenta nos ensinar e não tentar embutir na mensagem bíblica o que desejamos transmitir como Palavra de Deus. Esse é o propósito deste breve comentário, esclarecer a verdade que está sendo ensinada neste texto da maneira mais honesta possível e de acordo com as intenções do autor.

A primeira coisa que devemos fazer é ler o texto completo, em vez de lermos somente um versículo que nos induz a crermos erradamente que podemos fazer qualquer coisa pela fé.

Mateus 17.14-21 - “14 E, quando chegaram para junto da multidão, aproximou-se dele um homem, que se ajoelhou e disse: 15 Senhor, compadece-te de meu filho, porque é lunático e sofre muito; pois muitas vezes cai no fogo e outras muitas, na água. 16 Apresentei-o a teus discípulos, mas eles não puderam curá-lo. 17 Jesus exclamou: Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-me aqui o menino. 18 E Jesus repreendeu o demônio, e este saiu do menino; e, desde aquela hora, ficou o menino curado. 19 Então, os discípulos, aproximando-se de Jesus, perguntaram em particular: Por que motivo não pudemos nós expulsá-lo? 20 E ele lhes respondeu: Por causa da pequenez da vossa fé. Pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele passará. Nada vos será impossível. 21 Mas esta casta não se expele senão por meio de oração e jejum”.


I. OS EVANGELHOS SINÓTICOS SE COMPLEMENTAM

Os três primeiros evangelhos são muito parecidos, mas também tem suas diferenças quando relatam os mesmos fatos. Não que haja erros, ou que não tenham sido inspirados pelo Espírito Santo, o fato é que cada um foi escrito para um público diferente, por isso, alguns relatos não são reproduzidos na íntegra nos três livros simultaneamente. Por isso os chamamos de “sinóticos”, por que eles se complementam.

No Evangelho Segundo Marcos, no capítulo 9, encontramos o mesmo relato a respeito do “jovem lunático”. Nota-se que Marcos traz maiores detalhes do problema do jovem: “17 E um, dentre a multidão, respondeu: Mestre, trouxe-te o meu filho, possesso de um espírito mudo; 18 e este, onde quer que o apanha, lança-o por terra, e ele espuma, rilha os dentes e vai definhando. Roguei a teus discípulos que o expelissem, e eles não puderam” (...) “20 E trouxeram-lho; quando ele viu a Jesus, o espírito imediatamente o agitou com violência, e, caindo ele por terra, revolvia-se espumando. 21 Perguntou Jesus ao pai do menino: Há quanto tempo isto lhe sucede? Desde a infância, respondeu” (...) “22 e muitas vezes o tem lançado no fogo e na água, para o matar; mas, se tu podes alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos. 23 Ao que lhe respondeu Jesus: Se podes! Tudo é possível ao que crê. 24 E imediatamente o pai do menino exclamou com lágrimas: Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé! 25 Vendo Jesus que a multidão concorria, repreendeu o espírito imundo, dizendo-lhe: Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: Sai deste jovem e nunca mais tornes a ele”.

Veja que Mateus omite a informação do “espírito mudo” que aflige o jovem desde sua infância, ele também não relata o importante diálogo de Jesus com o pai do jovem, que pede que o Senhor lhe ajude com sua falta de fé.

De imediato, podemos dizer que é possível que algumas pessoas que leram só o texto de Mateus, tenham ficado com a impressão de que o jovem estava sendo curado de alguma enfermidade, porém, segundo Marcos, o problema era espiritual. Não é o caso aqui tratar esse assunto, se o jovem estava enfermo ou possesso, se um dos narradores estava equivocado ou foi omisso (isso é outra história, para outro artigo). Mas, tal fato é importante para nos alertar a respeito de interpretações e leituras apressadas ou tendenciosas, e que não podemos simplesmente escolher uma das versões do relato para direcionarmos a mensagem bíblica em conformidade com nossas intenções.


II. A TRADIÇÃO DA ÉPOCA NÃO DEVE SER ESQUECIDA

Há algo interessante a ser considerado na linguagem, a expressão idiomática. “Uma expressão idiomática ou expressão popular, na língua portuguesa, é uma expressão que se caracteriza por não ser possível identificar seu significado através de suas palavras individuais ou de seu sentido literal. Desta forma, também não é possível traduzi-la para outra língua de modo literal. Essas expressões geralmente se originam de gírias, cultura e peculiaridades de cada região” (Wikipédia).

Veja alguns exemplos:
. Abrir o coração – Desabafar;
. Agarrar com unhas e dentes – Não desistir de algo ou alguém facilmente.
. Arrancando os cabelos – Desesperado(a).

Em Israel isso não era diferente, quando Jesus fala de “mover este monte” expressava, como expressão idiomática dos judeus, “remover dificuldades, superar obstáculos, vencer desafios”. Repare, Jesus está falando “a este monte” referindo-se ao problema enfrentado, como se estivesse dizendo “a este espírito”. Enfim, o texto poderia ter sido escrito assim: “vocês diriam a este espírito: deixe este jovem, e ele o deixaria”.


III. A SOBERANIA DE DEUS NÃO PODE SER ESQUECIDA

Se nós começarmos a pensar firmemente que “nada” é impossível ao que crê porque está escrito assim, não será frustrante olhar para o mundo como está e ver que não conseguimos muda-lo simplesmente “determinando” (impondo, exigindo, ordenando, não aceitando, etc) que isso aconteça? Por que nem todas as nossas orações são atendidas? Por que ainda existem tantos crentes em leitos de morte ou passando por grandes aflições? Por que nem todos são ricos e abastados, sempre felizes e sempre saudáveis? Será mesmo que é só porque não temos fé suficiente? Eu estou certo que não.

Mt 5.34-38 – “Eu, porém, vos digo: de modo algum jureis; nem pelo céu, por ser o trono de Deus; 35 nem pela terra, por ser estrado de seus pés; nem por Jerusalém, por ser cidade do grande Rei; 36 nem jures pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto”.

A palavra jurar significa: assegurar, declarar ou prometer sob juramento, dar, prestar ou proferir juramento, afirmar cabalmente; afiançar, asseverar.

No texto acima, do Sermão do Monte, Jesus Cristo está dizendo que o homem não deve jurar, afirmar cabalmente, afiançar e nem asseverar nada que esteja além de suas forças, sobretudo, porque não somos capazes de realizar tudo o que queremos sozinhos.

Como a história da nossa vida já estava escrita mesmo antes de nós a conhecermos em suas partes (Sl 139.16), entendemos que ela está sujeita à soberania de seu Criador, a Deus. Como ser soberano do universo, Deus tem prerrogativas de Senhor que não lhe podem ser tiradas, portanto, nós não podemos “mandar” (ou determinar) que o Pai nos obedeça, ao contrário, a Bíblia ensina que devemos ser submissos àquele que nos criou (Hb 12.9). Mesmo em casa o filho não ordena ao Pai que se submeta às suas vontades, menos ainda podemos exigir que Deus se submeta a nós.

Deus é o Senhor da história, nenhum de seus planos ou palavras tornarão vazias para Ele, então temos que entender que há coisas que queremos fazer que esbarram no direcionamento de Deus e que não poderão acontecer, nem ao homem de maior fé.

Pv 16:1,9 – “O coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do Senhor. O coração do homem traça o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos”.
Jr 10.23 – “Eu sei, ó Senhor, que não cabe ao homem determinar o seu caminho, nem ao que caminha o dirigir os seus passos”.

Para cumprir seus desígnios, Deus interfere até em nossa vontade:

Gn 20.6 – “E disse-lhe Deus em sonhos: Bem sei eu que na sinceridade do teu coração fizeste isto; e também eu te tenho impedido de pecar contra mim; por isso, te não permiti tocá-la”.
Fp 2:13 – “Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”.


IV. A CERTEZA SOBRENATURAL VEM DO ALTO

A fé é um dom de Deus para o homem (Ef 2.8,9), é uma certeza (Hb 11.1) que só o homem que tem uma experiência viva e verdadeira com Deus pode ter.

1 Co 2:14 – “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”.

Entendo que nossa certeza, baseada na fé, para obtermos sucesso em alguns assuntos, depende da confirmação do Espírito Santo. O discernimento espiritual dado ao crente é que confirma se podemos ou não realizar alguma coisa em nome de Jesus. Tal discernimento é que alinha nossos desejos aos propósitos do Senhor, que se sobrepõe aos nossos interesses.

Não faltou convicção aos discípulos para expulsarem o espírito maligno do jovem, a grande dúvida daqueles homens era: “Por que motivo não pudemos nós expulsá-lo?” Eles estavam surpresos por terem falhado! O relacionamento daqueles homens com sua fé precisava ser alimentado e fortalecido pela oração e pelo jejum: “Mas esta casta não se expele senão por meio de oração e jejum”.

Discípulos são aprendizes, o próprio nome já afirma isto. Como nós, eles também precisaram falhar para aprenderem a ser bem sucedidos. Uma oração bem sucedida está de acordo com os propósitos de Deus e não somente ao fato de eu crer que possa fazer ou receber tal coisa. Textos isolados podem-nos fazer pensar isto: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. 8 Porque aquele que pede recebe; e o que busca encontra; e, ao que bate, se abre” (Mt 7. 7,8). Porém, outros textos comprovam que não é bem assim: “Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites” (Tg 4.3).

Entendo o que Jesus disse aos seus discípulos assim: "Vocês baseiam suas ações em poucas experiências, falta-lhes discernimento espiritual. Se vocês conhecerem o propósito de Deus pedirão o que convém, daí nada vos será negado. Isso se consegue com um relacionamento pessoal e íntimo com o Pai, com leitura da Bíblia, com oração e com jejum".