O
ethos evangélico é muito pouco
diferente do ethos nacional, sendo
predominantemente uma moralidade ou um testemunho pessoal. Mesmo sob a
orientação divina de ser “diferente” o evangélico pouco se destaca do modo de
ser de outras pessoas. Uma ética evangélica relevante para nossos tempos não
pode ser desvinculada da teologia, sem ela a ética se dilui em busca de códigos
de conduta cujo objetivo é só diferenciar evangélicos de não evangélicos.
A
ética dos brasileiros era uma ética patriarcalista, uma ética individual e de
cumprimento de deveres, baseadas numa série de negações a prazeres sociais,
tais como não fumar, não beber, etc. Nos dias de hoje a ética evangélica
continua sendo uma questão de regras de conduta e de restrição de
comportamento, havendo apenas certo relaxamento de costumes em relação ao
período anterior, tendo o hedonismo e o consumismo como destaque. Escândalos
sexuais e corrupção têm colocado a identidade evangélica em xeque.
Ações
sociais tomam o lugar de evangelismo e missões, a Igreja envolve-se mais em
assuntos políticos falando-se em termos de cristandade, subordinando a teologia
à ideologia, também buscando alcançar o poder para se beneficiar e para fazer
do Brasil um país evangélico. Isso se dá pela pouca influência que a teologia
tem dentro das comunidades cristãs, pois essa é de responsabilidade somente do
clero e das suas instituições teológicas. Pensamento ético sem teologia se
reduz a construção de códigos de conduta.
Uma
ética evangélica interessante baseia-se na liberdade alcançada em Cristo, que é
exemplo de uma total entrega de vida ao Pai e uma vida plena de humanidade
desejada pelo Criador. A liberdade é, portanto, conferida à humanidade mediante
a integralidade da vida, morte e ressurreição de Cristo. Jesus é libertador
mediante a sua solidariedade com a humanidade na escravidão que caracteriza a
nossa condição, por herança. Em Cristo conquistamos a liberdade dessa
escravidão mediante o Espírito de filiação enviado pelo Pai. O fundamento de
nossa liberdade é a fidelidade de Cristo, que torna a graça libertadora de Deus
presente na história. Jesus assume a maldição que recaía sobre a humanidade,
libertando-a da maldição da Lei que não pode mais impedir o homem de alcançar a
salvação, agora pela fé. Enfim, abre-se a possibilidade de uma vida plena de
liberdade em Cristo.
Conceber
a ética cristã como ética de liberdade nos ajuda a reconfigurar unidade entre
teologia, espiritualidade e ética. Como ética da liberdade cristã é uma ética
da liberdade em amor, a prática cristã da liberdade equivale à prática do amor
como o eixo da ética e espiritualidade cristãs.
A fé cristã se
renova diariamente na vida de todos que por ela são livres, e,
independentemente das falhas que seus seguidores cometem, ainda é uma instrução
divina para o benefício da coletividade dos que crêem, servindo a humanidade de
forma igualitária, justa, solidária e fraternal. A ética evangélica então deixa
de ser somente baseada em códigos de conduta ou normas de comportamento, mas,
na liberdade que foi alcançada em Cristo, pela fé, que pelo amor decorrente
desta mesma fé se materializa em cidadãos do Reino de Deus que lutam
permanentemente por sua manutenção.