terça-feira, junho 23, 2009

Teologia da "Revelação"?

“Revelação não é um conceito especificamente cristão nem um conceito teológico”. Na linguagem bíblica, ele não tem uma importância central. A teologia apologética da Idade Média e do Iluminismo incipiente foi que deslocou a “revelação” para o centro das atenções como fundamento da teologia cristã, para delimitar o conhecimento especificamente cristão de Deus em relação ao conhecimento racional acessível a todos e dar-lhe ênfase própria. Mas, desse modo, acabou retirando-o da discussão geral, pois não se pode discutir sobre as “revelações divinas”. Estas se possui ou não se possui. A teologia cristã falou de “revelação” sempre apenas em contraposição à “razão” humana. Contudo o correlato da fé cristã é, de acordo com a noção dos reformadores, a promissão de Deus “Fides ET promissio sunt correlativa [Fé e promissão são correlatas]”. Com a promissão de Deus tem-se em mente o conteúdo básico das tradições bíblicas. Elas testemunham a história da promissão de Deus. (...) Na história humana, Deus “revela-se” por meio da concordância entre promissão e cumprimento, pois nessa concordância a sua “fidelidade” torna-se manifesta e sua fidelidade é a sua essência. Deus indentifica-se com as suas promissões e por meio delas demonstra ser o Deus confiável, constante e fidedigno. “Deus é fiel e não pode negar a si mesmo” (II Tm 2.13). A ressurreição do Cristo crucificado é, conforme o Novo Testamento, a prova escatológica da fidelidade de Deus que nem mesmo a morte é capaz de invalidar. É por isso que com a ressurreição de Cristo tem início a revelação da glória de Deus, que vencerá o poder do tempo juntamente com o poder da morte e estabelecerá a criação eterna. [Experiências de reflexão teológica. Caminhos e formas da teologia cristã. Petrópolis: Vozes, 2000, pp. 71, 72].

Jürgen Moltmann
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Este é um excelente tema para se começar uma discução a respeito da interpretação acumulativa da Bíblia, - no sentido de construção de teologias sistemáticas - onde as doutrinas protestantes repousam sem uma classificação de textos diversos que, normalmente, nem sempre afirmam as mesmas coisas. Por exemplo, o dízimo nos livros do Êxodo, Levítico e Deuteronômio tem uma destinação diferente, entretanto, a teologia sistemática, em vez de classificar os textos de acordo com quem os escreveu (sacerdotal, da corte, profético, etc), acumula tais textos e força uma dogmática frágilizada e que, nos dias de hoje, me parece muito capenga. Há muito trabalho a ser feito com relação à quebra de paradigmas que, por serem considerados imutáveis devido seu caráter "divinamente inspirado", tem se perpetuado inclusive em seus erros de interpretação.

Pr. Luciano Costa