segunda-feira, novembro 30, 2009

Trono Episcopal de Alexandria


Stephan Huller, um colega de biblioblog, teve seu primeiro artigo publicado num jornal acadêmico de verdade. Trata-se de um trono que está na Catedral de San Marco que Stephan afirma ser originalmente o Trono Episcopal de Alexandria. Em breve se tornará um documentário no Discovery Channel.

Clique aqui e veja fotos e os comentários de Stephan Huller, além de encontrar um link para seu artigo.

MUNDANDO DE ASSUNTO...


Vai apelar assim lá longe!!

NOVO SITE

Resolvi dar uma remodelada em meu site, visite-o. Há vários estudos bíblicos, artigos, pastorais e sermões a disposição, além de indicações de livros.

DIA DO EVANGÉLICO? POR QUE?

“Os judeus começaram a fazer uma campanha contra Jesus, dizendo que transgredia a lei de descanso no dia de sábado. Mas Jesus respondeu: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (João 5.16,17).


Uma das maiores críticas feitas ao Senhor no dia do sábado era que ele não deixava de trabalhar. Seu trabalho consistia em socorrer os necessitados, aplacar a angústia dos aflitos, curar os enfermos e ensinar as maravilhas do Reino. Demonstrando aos religiosos que as pessoas são mais importantes que as coisas, mais importantes que a própria lei mosaica, que a vida do próximo deve valer mais que a obediência cega e literal da letra.

A importância da utilização do tempo para Jesus estava em torná-lo produtivo e relevante, útil para o crescimento do Reino por meio da salvação dos cativos, para que o nome do Pai fosse glorificado nele e em sua obra. Assim também era o ensinamento do apóstolo Paulo a seu discípulo Timóteo: “Conjuro-te, pois, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino, que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina” (II Tm 4.1-2). Se Jesus dedicava seu tempo exclusivamente para a realização de sua obra, para Paulo, seus discípulos deveriam fazer a mesma coisa trabalhando naquilo que fomos todos, pois todos somos sacerdócio real, vocacionados para fazer: sermos testemunhas do Senhor em todos os lugares onde estivermos (At 1.8)!

Agora, fica difícil ser uma boa testemunha quando aceitamos sem nenhum senso crítico a criação de um dia de ócio para os discípulos de Jesus. Um dia que foi exigido e atendido com base em argumentos do tipo: “os católicos tem feriados para seus santos”; “esse feriado é para comemorar o quanto os evangélicos cresceram no Brasil”; “é para demonstrar a importância de nossa presença no país”; etc. Que tolice comparar evangélicos com católicos e exigir também um feriado por isso, não é a crença de alguém que o torna importante e sim a relevância de sua prática em relação a seu semelhante, pois uma fé vivida sem prática é um fim em si mesmo (basta ler I Co 13)! Outro argumento estúpido é que se baseia no do crescimento de evangélicos no Brasil, como se todos fossem verdadeiros discípulos do Cristo ressurreto e não um bando de consumistas que só desejam um céu terreno e material, “para gastar em seus deleites” (Tg 4.2-3). Além disso, só há importância para o crescimento desse tipo de evangélico para quem comercializa a mensagem de Jesus, como cantores e bandas gospel que só pensam em sucesso e na venda de cds, dvds, camisetas, shows lotados, etc, porque para eles o faturamento e a projeção midiática que é uma “bênção”; falsos pastores que querem poder e prestígio, cegos na condução de cegos, deturpando as Sagradas Escrituras para criaram para si um paraíso terrestre, consumista, escapista e preconceituoso; além dos deputados interessados em angariar os votos dessa massa medíocre de seres sem consciência cristã, sem o Espírito de Deus.

O evangélico por si só não é nada, ele é discípulo e servo, nada tem a oferecer senão o que de graça e pela graça ganhou. Somente a Cristo deve-se toda honra, louvor e adoração. Requerer isso para sim é a contramão do ensino bíblico e não passa de vaidade. Nem Jesus precisa de um feriado, pois, todos os dias são do Senhor e no domingo, “o dia do Senhor”, é que nós cristãos nos reunimos para prestar-lhe culto comunitariamente.

Se o Pai trabalha até agora, se seu filho segue seu exemplo, eu também o seguirei.

terça-feira, novembro 24, 2009

Igrejas cheias de pessoas vazias?!

Embora muitas igrejas estejam cheias, inumeras pessoas ali parecem continuar vazias de sentido de viver

Recentemente, ouvi o pastor Carlos Alberto Bezerra, dirigente da Comunidade da Graça, falar que há muitas igrejas cheias de pessoas vazias. Uma frase de forte impacto e com muita razão. Ele falava de igrejas que não vivem o sadio Evangelho.

Tenho observado que há mesmo muitas igrejas cheias – considerando aqui igreja como o espaço nobre da vivência do sagrado. É claro que Jesus não morreu pelo espaço e pelos objetos que estão nesse espaço. Mas tenho também observado que, embora muitas igrejas estejam cheias, inúmeras pessoas ali parecem continuar vazias de sentido no viver. Em vez de entregarem não só a alma para Jesus, ainda não lhe entregaram tudo o que têm (negando-se a si mesmas, conforme Lucas 9.23). Antes, estão buscando um Deus de avental, pronto a servi-las com todas as benesses celestiais e principalmente materiais.

São pessoas que não estão dispostas a buscar o arrependimento, o perdão, o abandono de uma vida egoísta e consumista dos bens e riquezas, que foram mal nos negócios, no emprego, que não souberam planejar sua vida e recursos e agora estão na pior. Então, buscam o Deus-panacéia, o Deus-resolve-tudo, tipo um consertador, uma espécie de “clínico geral”.

Muitos líderes e igrejas são oportunistas, pois o mundo, estando cheio de pessoas com esse perfil, fornece os clientes potenciais para rechear o caixa da igreja e seus bolsos. Por meio da pregação de um evangelho antropocêntrico, despido da verdade bíblica, transformam Deus em mercadoria de bom preço. Estão dispostos a pôr o Senhor para trabalhar para você a um custo inicialmente baixo, mas, se feito um balanço, o custo será alto, não apenas financeiro, mas também quanto ao que de mais importante existe na vida – a perda de seu significado.

Outro dia, recebi um e-mail de uma pessoa que freqüenta uma igreja assim, ela estava desiludida, pois já havia gastado tudo o que tinha e nada conseguiu resolver de sua vida. Caiu no conto do “vigário”, desculpem-me, no conto do “pastor”!

A realidade é que as pessoas estão vazias não porque estejam desempregadas, com saldo devedor, com enfermidades, com a perda de um ente querido. Estão vazias porque o buraco dentro de suas vidas é do tamanho exato de Deus, o vazio é a perda de sentido na vida, de objetivo em viver.

Jesus disse “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (João 10.10). Não é porque você entregou a vida a Jesus, que adquiriu a imunidade a vírus, bactérias, morte, perda de emprego, etc. Como nova criatura, você vive, não mais você, mas Cristo vive em você (Gl 2.20), ele é quem vai dar significado à sua vida, a visão de mundo agora é outra, os bens são meros acessórios, muitos deles dispensáveis, você vai buscar um estilo simples de viver, por isso é possível dizer “Em tudo dai graças” (1Ts 5.18). Uma vida grata é uma vida cheia de sentido.

Lourenço Stelio Rega
é teologo, educador e escritor.


fonte: Revista Eclésia

terça-feira, novembro 17, 2009

APÓSTOLOS OU APÓSTATAS?

“Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência; proibindo o casamento, e ordenando a abstinência dos alimentos que Deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças; Porque toda a criatura de Deus é boa, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças” (I Timóteo 4.1-4).

Em seu ministério Paulo lutava incansavelmente contra os hereges de sua época, pessoas que pregavam mentiras e coagiam seus seguidores a se abster de alimentos, a utilizar certos tipos de roupas, de rejeitarem a comunhão com pessoas estranhas a sua crença, entre tantas outras coisas que a criatividade humana era capaz de inventar. Desde sempre há pessoas que, dizendo-se portadores de “revelações especiais” – muitas vezes exclusivas – estão direcionando seus rebanhos a caminhos de engano e de morte, arvorando-se como profetas de uma nova era cristã e prometendo milagres e grandes prodígios, além de prosperidade, poder e prestígio para seus discípulos, esquecendo-se e desviando-se totalmente dos ensinamentos de Cristo, legislando em benefício próprio.

Para quem dá continuidade à luta do apóstolo Paulo, a televisão tornou-se pior para o Evangelho do que já foi antes. Todo cristão, com pouco mais de dez anos de fé, deve ser capaz de se lembrar de discussões a respeito da necessidade de se ocupar este espaço de influência massiva, de se criar programas evangélicos onde seria divulgada a boa nova de salvação ao mundo. Hoje, pessoas que tiveram um encontro verdadeiro com Cristo, lamentam-se em suas casas ao verem a preciosa mensagem da graça de Deus ser descaradamente transformada em produto da economia capitalista. Tudo não passa da descoberta de um excelente nicho de mercado, onde com grandes porções de sentimentalismo e uma boa dose de curandeirismo vendem-se lencinhos sagrados, águas bentas, óleos santos e todo tipo de bugiganga “gospel”.

Da televisão para os templos suntuosos, observa-se nesses cultos uma autoridade auto-imposta onde o líder “determina” bênçãos de prosperidade e cura, tornando Deus em mero amuleto de poder donde fluem as forças necessárias para os “profetas” realizarem seus grandes feitos. Nesse caso a soberania de Deus deixa de existir e é Ele quem passa a obedecer ao superpregador infalível, imbatível e determinador do destino dos seus fiéis. São homens e mulheres que recebem cada vez mais adoração e louvor que o próprio Senhor Jesus Cristo. São novas versões do bezerro de ouro, só que ainda não experimentaram a ira de Deus.

Dentre tantas coisas observáveis na Bíblia, referentes à volta de Jesus, a apostasia declarada no texto que introduz este artigo é aí observada muito claramente. Pois, quem deseja viver uma fé de deleites, de acúmulo de bens materiais, de poder e futilidades, está vivendo um evangelho diferente e estranho ao texto das Sagradas Escrituras. Quem vive esse falso evangelho onde as pessoas são mais importantes pelo que tem e não pelo que são, que ignoram seus semelhantes por excessivo amor a si mesmos, já abandonaram a mensagem cristã verdadeira e apostataram da fé. Tais pessoas nunca foram realmente alcançadas e transformadas pela ação graciosa do Espírito Santo. Paulo fez duras afirmações contra essas pessoas que manipulam e modificam o Evangelho em benefício próprio: “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema” (Gl 1.8,9).

Muitos pensam estar na Igreja, mas, estão em instituições apóstatas e anátemas, que pregam um evangelho de licenciosidade e de abandono aos ensinamentos de Cristo e de seus verdadeiros apóstolos, tais como:

• Mat 6:25 – “Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?”

• Mat 6:33 – “Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.”

• O exemplo de Zaqueu – Luc 19.8 - “E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado”. Abriu mão da riqueza para seguir a Jesus.

• O péssimo exemplo do jovem mancebo – Mat 19.21 – Jesus tratando com o Mancebo de Qualidade quando diz: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo que tens, e dá aos pobres; E terás um tesouro nos Céus; e vem, e segue-me”. E Jesus continua: "Disse então Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos céus. E, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus" (Mat 19:23).

• Jo 13.34,35 – “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”.

• 1Tim 6:10, 17-19 - "Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos; Que façam bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente, e sejam comunicáveis; Que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna".

• 1Tim 2.5 – “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem”. Esses falsos profetas não podem assumir uma postura de mediadores, pois, só há um Mediador e este é o Cristo.

Há muitos outros textos que podem corroborar com a denúncia contra o falso (e maldito) evangelho que tem sido propagado no Brasil e no mundo, seja pela televisão, rádio ou instituições locais. Mas, para quem apostatou da fé, para quem nunca se tornou uma nova criatura e tem sua atenção voltada unicamente para a materialidade terrena, é inútil citar textos porque é como lançar pérolas a porcos (Mt 7.6). Mas, não se pode ficar calado diante de tal apostasia, heresia e blasfêmia, vale a denúncia contra os falsos profetas e a exortação que fica para os santos:

“Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas e farão tão grandes sinais e prodígios, que, se possível fora, enganariam até os escolhidos” (Mt 24.24).

segunda-feira, novembro 16, 2009

NADA VOS SERÁ IMPOSSÍVEL!


“E ele lhes respondeu: Por causa da pequenez da vossa fé. Pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele passará. Nada vos será impossível” (Mt 17:20).

Pronto, agora que encontramos um texto apropriado vamos tentar justificar nosso desejo de resolver tudo sem fazermos nada. Vamos determinar, pela fé, que tudo que queremos deve acontecer! Afinal, pode-se remover montanhas e realizar qualquer outra coisa, pois, a Palavra de Deus está dizendo que: “Nada vos será impossível”. Mas, será mesmo isso que Jesus Cristo está nos ensinando?

Repare, é fácil induzir pessoas a crerem em coisas aparentemente óbvias e, ao que parece, é claro que Jesus está dizendo que podemos todas as coisas por meio da fé. Porém, um texto analisado fora de seu contexto geral pode nos induzir ao engano, fazendo-nos descartar muitas verdades nele contidas para aceitarmos o que queremos que o texto diga. Isso é bem diferente de interpretar o texto, é dar-lhe nossa idéia do que ele está informando e isso é muito errado! Devemos tentar descobrir o que o autor do texto tenta nos ensinar e não tentar embutir na mensagem bíblica o que desejamos transmitir como Palavra de Deus. Esse é o propósito deste breve comentário, esclarecer a verdade que está sendo ensinada neste texto da maneira mais honesta possível e de acordo com as intenções do autor.

A primeira coisa que devemos fazer é ler o texto completo, em vez de lermos somente um versículo que nos induz a crermos erradamente que podemos fazer qualquer coisa pela fé.

Mateus 17.14-21 - “14 E, quando chegaram para junto da multidão, aproximou-se dele um homem, que se ajoelhou e disse: 15 Senhor, compadece-te de meu filho, porque é lunático e sofre muito; pois muitas vezes cai no fogo e outras muitas, na água. 16 Apresentei-o a teus discípulos, mas eles não puderam curá-lo. 17 Jesus exclamou: Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-me aqui o menino. 18 E Jesus repreendeu o demônio, e este saiu do menino; e, desde aquela hora, ficou o menino curado. 19 Então, os discípulos, aproximando-se de Jesus, perguntaram em particular: Por que motivo não pudemos nós expulsá-lo? 20 E ele lhes respondeu: Por causa da pequenez da vossa fé. Pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele passará. Nada vos será impossível. 21 Mas esta casta não se expele senão por meio de oração e jejum”.


I. OS EVANGELHOS SINÓTICOS SE COMPLEMENTAM

Os três primeiros evangelhos são muito parecidos, mas também tem suas diferenças quando relatam os mesmos fatos. Não que haja erros, ou que não tenham sido inspirados pelo Espírito Santo, o fato é que cada um foi escrito para um público diferente, por isso, alguns relatos não são reproduzidos na íntegra nos três livros simultaneamente. Por isso os chamamos de “sinóticos”, por que eles se complementam.

No Evangelho Segundo Marcos, no capítulo 9, encontramos o mesmo relato a respeito do “jovem lunático”. Nota-se que Marcos traz maiores detalhes do problema do jovem: “17 E um, dentre a multidão, respondeu: Mestre, trouxe-te o meu filho, possesso de um espírito mudo; 18 e este, onde quer que o apanha, lança-o por terra, e ele espuma, rilha os dentes e vai definhando. Roguei a teus discípulos que o expelissem, e eles não puderam” (...) “20 E trouxeram-lho; quando ele viu a Jesus, o espírito imediatamente o agitou com violência, e, caindo ele por terra, revolvia-se espumando. 21 Perguntou Jesus ao pai do menino: Há quanto tempo isto lhe sucede? Desde a infância, respondeu” (...) “22 e muitas vezes o tem lançado no fogo e na água, para o matar; mas, se tu podes alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos. 23 Ao que lhe respondeu Jesus: Se podes! Tudo é possível ao que crê. 24 E imediatamente o pai do menino exclamou com lágrimas: Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé! 25 Vendo Jesus que a multidão concorria, repreendeu o espírito imundo, dizendo-lhe: Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: Sai deste jovem e nunca mais tornes a ele”.

Veja que Mateus omite a informação do “espírito mudo” que aflige o jovem desde sua infância, ele também não relata o importante diálogo de Jesus com o pai do jovem, que pede que o Senhor lhe ajude com sua falta de fé.

De imediato, podemos dizer que é possível que algumas pessoas que leram só o texto de Mateus, tenham ficado com a impressão de que o jovem estava sendo curado de alguma enfermidade, porém, segundo Marcos, o problema era espiritual. Não é o caso aqui tratar esse assunto, se o jovem estava enfermo ou possesso, se um dos narradores estava equivocado ou foi omisso (isso é outra história, para outro artigo). Mas, tal fato é importante para nos alertar a respeito de interpretações e leituras apressadas ou tendenciosas, e que não podemos simplesmente escolher uma das versões do relato para direcionarmos a mensagem bíblica em conformidade com nossas intenções.


II. A TRADIÇÃO DA ÉPOCA NÃO DEVE SER ESQUECIDA

Há algo interessante a ser considerado na linguagem, a expressão idiomática. “Uma expressão idiomática ou expressão popular, na língua portuguesa, é uma expressão que se caracteriza por não ser possível identificar seu significado através de suas palavras individuais ou de seu sentido literal. Desta forma, também não é possível traduzi-la para outra língua de modo literal. Essas expressões geralmente se originam de gírias, cultura e peculiaridades de cada região” (Wikipédia).

Veja alguns exemplos:
. Abrir o coração – Desabafar;
. Agarrar com unhas e dentes – Não desistir de algo ou alguém facilmente.
. Arrancando os cabelos – Desesperado(a).

Em Israel isso não era diferente, quando Jesus fala de “mover este monte” expressava, como expressão idiomática dos judeus, “remover dificuldades, superar obstáculos, vencer desafios”. Repare, Jesus está falando “a este monte” referindo-se ao problema enfrentado, como se estivesse dizendo “a este espírito”. Enfim, o texto poderia ter sido escrito assim: “vocês diriam a este espírito: deixe este jovem, e ele o deixaria”.


III. A SOBERANIA DE DEUS NÃO PODE SER ESQUECIDA

Se nós começarmos a pensar firmemente que “nada” é impossível ao que crê porque está escrito assim, não será frustrante olhar para o mundo como está e ver que não conseguimos muda-lo simplesmente “determinando” (impondo, exigindo, ordenando, não aceitando, etc) que isso aconteça? Por que nem todas as nossas orações são atendidas? Por que ainda existem tantos crentes em leitos de morte ou passando por grandes aflições? Por que nem todos são ricos e abastados, sempre felizes e sempre saudáveis? Será mesmo que é só porque não temos fé suficiente? Eu estou certo que não.

Mt 5.34-38 – “Eu, porém, vos digo: de modo algum jureis; nem pelo céu, por ser o trono de Deus; 35 nem pela terra, por ser estrado de seus pés; nem por Jerusalém, por ser cidade do grande Rei; 36 nem jures pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto”.

A palavra jurar significa: assegurar, declarar ou prometer sob juramento, dar, prestar ou proferir juramento, afirmar cabalmente; afiançar, asseverar.

No texto acima, do Sermão do Monte, Jesus Cristo está dizendo que o homem não deve jurar, afirmar cabalmente, afiançar e nem asseverar nada que esteja além de suas forças, sobretudo, porque não somos capazes de realizar tudo o que queremos sozinhos.

Como a história da nossa vida já estava escrita mesmo antes de nós a conhecermos em suas partes (Sl 139.16), entendemos que ela está sujeita à soberania de seu Criador, a Deus. Como ser soberano do universo, Deus tem prerrogativas de Senhor que não lhe podem ser tiradas, portanto, nós não podemos “mandar” (ou determinar) que o Pai nos obedeça, ao contrário, a Bíblia ensina que devemos ser submissos àquele que nos criou (Hb 12.9). Mesmo em casa o filho não ordena ao Pai que se submeta às suas vontades, menos ainda podemos exigir que Deus se submeta a nós.

Deus é o Senhor da história, nenhum de seus planos ou palavras tornarão vazias para Ele, então temos que entender que há coisas que queremos fazer que esbarram no direcionamento de Deus e que não poderão acontecer, nem ao homem de maior fé.

Pv 16:1,9 – “O coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do Senhor. O coração do homem traça o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos”.
Jr 10.23 – “Eu sei, ó Senhor, que não cabe ao homem determinar o seu caminho, nem ao que caminha o dirigir os seus passos”.

Para cumprir seus desígnios, Deus interfere até em nossa vontade:

Gn 20.6 – “E disse-lhe Deus em sonhos: Bem sei eu que na sinceridade do teu coração fizeste isto; e também eu te tenho impedido de pecar contra mim; por isso, te não permiti tocá-la”.
Fp 2:13 – “Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”.


IV. A CERTEZA SOBRENATURAL VEM DO ALTO

A fé é um dom de Deus para o homem (Ef 2.8,9), é uma certeza (Hb 11.1) que só o homem que tem uma experiência viva e verdadeira com Deus pode ter.

1 Co 2:14 – “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”.

Entendo que nossa certeza, baseada na fé, para obtermos sucesso em alguns assuntos, depende da confirmação do Espírito Santo. O discernimento espiritual dado ao crente é que confirma se podemos ou não realizar alguma coisa em nome de Jesus. Tal discernimento é que alinha nossos desejos aos propósitos do Senhor, que se sobrepõe aos nossos interesses.

Não faltou convicção aos discípulos para expulsarem o espírito maligno do jovem, a grande dúvida daqueles homens era: “Por que motivo não pudemos nós expulsá-lo?” Eles estavam surpresos por terem falhado! O relacionamento daqueles homens com sua fé precisava ser alimentado e fortalecido pela oração e pelo jejum: “Mas esta casta não se expele senão por meio de oração e jejum”.

Discípulos são aprendizes, o próprio nome já afirma isto. Como nós, eles também precisaram falhar para aprenderem a ser bem sucedidos. Uma oração bem sucedida está de acordo com os propósitos de Deus e não somente ao fato de eu crer que possa fazer ou receber tal coisa. Textos isolados podem-nos fazer pensar isto: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. 8 Porque aquele que pede recebe; e o que busca encontra; e, ao que bate, se abre” (Mt 7. 7,8). Porém, outros textos comprovam que não é bem assim: “Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites” (Tg 4.3).

Entendo o que Jesus disse aos seus discípulos assim: "Vocês baseiam suas ações em poucas experiências, falta-lhes discernimento espiritual. Se vocês conhecerem o propósito de Deus pedirão o que convém, daí nada vos será negado. Isso se consegue com um relacionamento pessoal e íntimo com o Pai, com leitura da Bíblia, com oração e com jejum".