quarta-feira, maio 27, 2009

CONSUMISMO, ADORAÇÃO AO “DEUS” MERCADO


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7 Então disse o Senhor a Moisés: Vai, desce; porque o teu povo, que fizeste sair do Egito, se corrompeu 8 e depressa se desviou do caminho que lhe havia eu ordenado; fez para si um bezerro fundido, e o adorou, e lhe sacrificou, e diz: São estes, ó Israel, os teus deuses, que te tiraram da terra do Egito. 9 Disse mais o Senhor a Moisés: Tenho visto este povo, e eis que é povo de dura cerviz. 10 Agora, pois, deixa-me, para que se acenda contra eles o meu furor, e eu os consuma; e de ti farei uma grande nação” (Êx 32.7-10).

O texto acima é um dos mais utilizados pelos apologetas evangélicos contra a prática da idolatria. Este, entre tantos, é, na maioria das vezes, utilizado para atacar a prática da igreja católica romana em venerar imagens. Fazendo isto estamos sujeitos a não considerar com justiça o que vem a ser a idolatria de fato, pois, uma coisa é como entendemos tal prática hoje e outra coisa como ela era compreendida no passado, como quer demonstrar o texto mosaico. Hoje, basicamente, o ídolo é uma imagem que representa uma divindade e que se adora como se fosse a própria divindade. Mas, no passado na tradição judaico-cristã, o ídolo era um indíviduo real, ou uma imagem representativa de uma entidade fantástica, ou a própria entidade, considerados, de maneira equivocada e herética, portadores de atributos divinos. Ou seja, não havia a necessidade de um ícone, de uma representação gráfica, concreta do ídolo, pois, este existia e consistia de sua essência como entidade.

Sem maiores aprofundamentos, seria interessante considerar que o problema da idolatria não está na imagem em si, mas, em tudo o que ela passa a representar. O ícone, o objeto concreto não é nada; o problema está em sua capacidade de transportar ideologias, culturas, etc, (economia, política, religião, etc) que podem ser danosas à vida humana e ao meio-ambiente.

Se algum dentre os incrédulos vos convidar, e quiserdes ir, comei de tudo o que for posto diante de vós, sem nada perguntardes por motivo de consciência. Porém, se alguém vos disser: Isto é coisa sacrificada a ídolo, não comais, por causa daquele que vos advertiu e por causa da consciência; consciência, digo, não a tua propriamente, mas a do outro” (I Co 10.27-29a).

As palavras de Paulo corroboram, portanto, para que se compreenda que o ídolo em si não é nada, contudo, o que lhe é intrínseco pode ser perigoso. O bezerro de ouro do texto de Êx 32.7-10 é uma clara demonstração disto. O bezerro em si não era nada, mas representava a ingratidão e a arrogância de Israel diante de Deus.

Até antes da construção do bezerro de ouro Deus havia libertado seu povo, conduzindo-o pelo deserto sem deixar-lhe faltar o alimento e nem vestimentas. Da parte de Israel o que se ouviu foi incredulidade, pois achavam que os egípcios os matariam ante o Mar Vermelho, murmurações a respeito da falta d’água (que lhes foi providenciada), do maná (“todo dia a mesma coisa!”), da falta de carne, da saudade dos pepinos do Egito, da liderança de Moisés, etc. Além disso, aquele povo seria submetido a uma lei duríssima a qual deviam obediência para sua salvação e glorificação do nome de Deus.

O que representava o bezerro de ouro? Representava a preferência de Israel em manter-se escravo de suas conveniências, em vez de estar livre, como povo autônomo, mas, com o compromisso de servirem a Deus, a seus semelhantes e à terra. Adorarem ao bezerro de ouro era uma limitação da real divindade de Deus, de sua soberania, de sua onipotência, onipresença e onisciência, relegando-o a um simples objeto que não poderia exercer nenhuma autoridade sobre seus seguidores. Faz-se isso nas igrejas de hoje quando são enfatizados pontos que possam parecer mais interessantes ao público: prosperidade, felicidade agora, saúde inabalável, poder e prestígio. O homem transfere seu amor, seu respeito, sua atenção e todos os seus esforços de Deus para suas conveniências pessoais. Deus passa a existir e ser poderoso somente para fazer o que seus fiéis lhe pedirem (ou mandarem).

O que seria o consumismo senão um culto velado ao mercado? Um deus não representado por nenhum ícone, ou desenho, mas, que está vivo e atuante na vida de todos nós, religiosos ou não. “O consumismo é uma compulsão caracterizada pela busca incessante de objetos novos sem que haja necessidade dos mesmos. Após a industrialização, criou-se uma mentalidade de que quanto mais se consome mais se tem garantias de bem-estar, de prestígio e de valorização, já que na atualidade as pessoas são avaliadas pelo que possuem e não pelo que são” (Blog Consumismo, a modinha da vez).

O consumismo é uma forma de “testemunho” de prosperidade, poder e prestígio, alcançados por aqueles que seguem religiosamente os mandamentos do mercado, onde ter é mais importante que ser (e que o ser). Onde as coisas passam a ser mais importantes que as pessoas e a projeção individual o clímax paradisíaco do fiel. Tal testemunho nem sempre é fruto de sucesso, uma vez que muitas pessoas, no afã de se sentirem tão abençoados como os demais, compram compulsivamente e se endividam para obterem reconhecimento de seus “irmãos”.

O consumista torna-se escravo de seu deus, lutando contra tudo e contra todos para alcançar cada dia mais robustez financeira, legalmente ou nem tanto. Mesmo que isso lhe custe a saúde, a própria vida, ou a família, porque, para ser bem-sucedido nesse mundo, não se pode perder tempo com o outro. Aliás, é sempre dos outros que os sacerdotes tiram para colocar na mão de pouquíssimos merecedores. Nesta igreja, tal doutrina é conhecida como “máxima concentração de renda”. Aleluia?!

A Igreja de Cristo não pode seguir este caminho, não pode se deixar levar pela toada do capitalismo. Ao contrário, com um paradigma profético de valoração do oprimido, a Igreja (como Deus) deve preocupar-se em anunciar e fomentar a vida; suprindo-lhe de bens materiais, mas, principalmente, a dignidade do ser. O que o mundo precisa hoje é conscientizar-se da necessidade de se construir uma sociedade mais fraterna, justa e humana. A Igreja deve estar pronta para dar-lhe tal direcionamento.

terça-feira, maio 19, 2009

CORRUPÇÃO E FALSIDADE

Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o poderá conhecer” (Jeremias 17.9)?


Não é de hoje que se fala a respeito do famoso “jeitinho” brasileiro, quer dizer, que se fala e que se continua agindo de acordo com essa maneira tão particular de ser de nosso povo. Algo que faz com que o brasileiro seja conhecido mundialmente, deveria, no mínimo, ser uma coisa boa que fosse passiva de se tornar um exemplo a ser seguido. Porém, antes de ser isso realidade, é este o motivo de sermos discriminados e até objeto chacota internacional. Obviamente, estou excluindo aqui uma lista de intermináveis transgressões que cometemos ou que com as quais, mui passivamente, somos coniventes.

Isso não quer dizer que outras pessoas no mundo não façam coisas erradas, mas, é realmente peculiar ao nativo do Brasil, tentar solucionar todo e qualquer tipo de problema pela via mais fácil. A ideologia de “lei do menor esforço”, que poderia, sob uma boa análise e propósito honesto, ter uma utilização benéfica em certos aspectos da vida (principalmente para deficientes físicos e mentais), tornou-se o eixo motivador de atitudes que desabonam nossa conduta.

Pior de tudo, é que o interesse do “se dar bem a qualquer custo” foi absorvido pela personalidade universal brasileira, tornou-se uma crença básica entranhada no mais profundo de nosso ser. Somos hoje um povo que não respeita o direito alheio, que não tem compromisso moral com a justiça, com a educação, nem com o social.

Como disse João Ubaldo Ribeiro: “falta matéria-prima” para se construir um Brasil mais justo para todos. Somos críticos ferrenhos de coisas que repetimos em nossos lares, em nossos locais de trabalho e até em nossas igrejas. Somos corruptos e perversos desde a mocidade (Gn 8.21).

Apesar da desesperança que nos causa a visível adesão em massa desse modo de vida, preciso crer na suficiente capacidade do Espírito Santo em transformar-nos em novas criaturas (II Co 5.17). Com efeito, somente uma intervenção divina, sobrenatural, poderia modificar a essência de indivíduos que vivem o erro como se fosse uma verdade absolutamente normal, para uma natureza espiritual capaz de discernir valores sadios de fato.

Assim nos ensina o apóstolo Paulo: “E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2).